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INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM

Alessandra Batista Ferreira

Dandara Lorrayne do Nascimento

Resumo: O objetivo deste artigo é refletir qualitativamente acerca da relação entre professor e aluno.  Para alcançar este objetivo, foi realizada uma entrevista com pais/responsáveis por alunos e professores de uma escola municipal  localizada na zona rural da cidade de Itaúna, em  Minas Gerais.  Para embasamento teórico-metodológico deste trabalho foram utilizados definições e argumentos de autores que dissertam sobre as possíveis influências na aprendizagem causadas pelo relacionamento entre professores e alunos. Os resultados obtidos consideraram que a relação professor-aluno de fato influencia na aprendizagem e que a afetividade e a postura do professor devem ser consideradas, contribuindo assim para uma aprendizagem efetiva e prazerosa. Pôde-se perceber que a função do professor não é apenas colaborar para construção do conhecimento sistematizado, mas também colaborar para formação sócio-cultural do estudante.  Este estudo, de natureza qualitativa, analisou as reflexões de quatro professoras e quatro responsáveis ao promover uma roda de conversa. O grupo entrevistado sinalizou concepções positivas sobre a interação professor-aluno no processo de ensino aprendizagem. 

Palavras-chave: Relação. Professor. Aluno. Aprendizagem

Abstract: The purpose of this article is to reflect qualitatively on the relationship between teacher and student. To achieve this goal, an interview was conducted with parents / guardians of students and teachers at a municipal school located in the rural area of ​​the city of Itaúna in Minas Gerais. For the theoretical and methodological basis of this work, definitions and arguments by authors who talk about the possible influences on learning caused by the relationship between teachers and students were used. The results obtained considered that the teacher-student relationship in fact influences learning and that the teacher’s affection and attitude must be considered, thus contributing to an effective and pleasurable learning. It was possible to notice that the teacher’s role is not only to collaborate in the construction of systematized knowledge, but also to collaborate in the socio-cultural formation of the student. This qualitative study analyzed the reflections of four teachers and four guardians when promoting a conversation circle. The interviewed group signaled positive conceptions about teacher-student interaction in the teaching-learning process.

Keywords: Relationship. Teacher. Student. Learning

1   – INTRODUÇÃO

Objetivando compreender se a relação entre professor e aluno influencia na construção da aprendizagem, será feito um estudo com quatro professores e quatro responsáveis de alunos de uma escola municipal localizada em Itaúna-MG . A fim de relacionar os dados obtidos na pesquisa de campo, será feito um estudo de literatura.

Decidiu-se por realizar esse estudo à luz da teoria das representações sociais, uma vez que no mundo atual muito tem se questionado se realmente “ a relação professor-aluno é uma condição indispensável para a mudança do processo de aprendizagem, pois essa relação dinamiza e dá sentido ao processo educativo”(SILVA, 2012, p.97). Ao levar em conta o que afirma esta frase, a relação do professor com o aluno torna-se o centro do processo educativo, processo este que envolve uma relação pautada na confiança, afetividade e respeito, cabendo ao professor orientar o educando para o crescimento interno.

É preciso oferecer oportunidades para que sala de aula seja um lugar de desenvolvimento de potencialidades, crescimento intelectual e de descobertas de valores que influenciam o aluno na construção da cidadania. (NAVARRO; SILVA, 2012).

Acredita-se que a função do professor não é apenas de transmitir conhecimento científico, mas também ensinar valores, atitudes. O desenvolvimento e o cuidado emocional são tão importantes quanto o desenvolvimento intelectual. (MORALES, 2001).

A metodologia do professor precisa estar inserida em planejamentos que favoreçam os diversos tipos de aprendizagem, um processo que seja contínuo, coletivo, interativo, a aprendizagem precisa ultrapassar os limites da sala de aula. (NAVARRO; SILVA, 2012).

De acordo com Navarro e Silva (2012, p.98) “[…] ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia de nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais.”

Jesus ([s/d], p.6-7) assim se expressa sobre o assunto:

A relação professor e aluno deve ser baseada em afetividade e sinceridade, pois: Se um professor assume aulas para uma classe e crê que ela não aprenderá, então está certo e ela terá imensas dificuldades. Se ao invés disso, ele crê no desempenho da classe, ele conseguirá uma mudança, porque o cérebro humano é muito sensível a essa expectativa sobre o desempenho.  (JESUS, [s/d], p.6-7).

É nessas circunstâncias que pretende-se identificar se as representações sociais dos professores, dos responsáveis pelos estudantes onde foi realizada a pesquisa e dos estudos acerca do referencial teórico são favoráveis para o entendimento sobre a relação professor-aluno e a influência no ensino e na aprendizagem.

2- A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO 

Segundo Saviani (2009), durante todo o período colonial não havia preocupações explícitas com a formação de professores, foi com a Lei das Escolas de Primeiras Letras (BRASIL, 1827 apud SAVIANI, 2009), promulgada em 15 de outubro de 1827, que esta preocupação surgiu. Porém, somente em 1834, após a criação do Ato Constitucional que surgiram as Escolas Normais que tiveram existência intermitente, pois foram abertas e fechadas várias vezes, e sem preocupações didáticas – pedagógicas. ( SOUZA, [s/d]).

Belotti (2010) traz que, antigamente, o professor se formava e atuava do mesmo modo como começava, até o fim de sua carreira. Passava os conteúdos que tinha aprendido e nada mais, não havia questionamentos vindos dos alunos e muito menos uma relação de amizade entre professor e aluno. O professor era o poder e o aluno apenas obedecia.

Na visão de Freire (1979) trata-se de uma ‘educação bancária’ onde o professor assume as funções de vigiar, corrigir, ensinar e também punir os alunos. Ele também é visto como um organizador de conteúdos, autoridade máxima, detentor do saber e, portanto, o único responsável e condutor do processo educativo.

Para Freire (2005, p. 211), dever-se-ia conhecer a realidade e na práxis, exercer o poder de transformação, tornando efetiva uma educação libertadora:

[…] é o momento altamente pedagógico, em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos, como um só corpo, buscam instaurar, com a transformação da realidade que os mediatiza. (FREIRE, 2005, p.211).

Atualmente tem-se a Escola Nova que, segundo Aranha (1996, p. 167):

[…] surge no final do século XIX justamente para propor novos caminhos à educação, que se encontra em descompasso com o mundo no qual se acha inserida. Representa o esforço de superação da pedagogia da essência pela pedagogia da existência. Não se trata mais de submeter o homem a valores e dogmas tradicionais e eternos, nem de educá-lo para a realização de sua ‘essência verdadeira’. A pedagogia da existência volta-se para a problemática do indivíduo único, diferenciado, que vive e interage em um mundo dinâmico. (ARANHA, 1996, P.167).

Pode-se perceber que a Escola Nova traz uma proposta onde o aluno participa ativamente do processo de ensino aprendizagem e o professor passa de transmissor do conhecimento para mediador, provocador e colaborador para novas aprendizagens.

Libâneo (1994 p. 58) lembra que “[…] é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito”. Propondo uma reflexão sobre a importância e a responsabilidade que o professor tem e que o seu relacionamento com o aluno é primordial para o processo de aprendizagem.

De acordo com Miranda (2008) o ser humano, além de pensar, é um ser emotivo e também social, herança da sociedade desde o nascimento. Portanto o fator afetivo é muito importante para o desenvolvimento e a construção do conhecimento, pois através da afetividade o aluno se desenvolve, aprende e constrói seus conhecimentos, desde os mais simples até os mais complexos. A afetividade refere-se às vivências dos indivíduos e às formas de expressão mais complexas e sobretudo humanas.

Para Miranda (2008, p. 4), mesmo que o aspecto cognitivo seja mais estudado, mais questionado, por explicar a construção da inteligência, não se deve deixar de considerar que “[…] as construções intelectuais são permeadas passo a passo pelo aspecto afetivo e que ele é muito importante.”

Vygotsky (1994 apud KOSLOSKI, 2008, p. 2) ressalta que:

[…] ao destacar a importância das interações sociais, traz a ideia da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas.Afirma que “todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da crinça (intrapsicológica)”. (VYGOTSKY, 1994 apud KOSLOSKI, 2008, p. 2).

Smolka e Goés (1995 apud TASSONI, 2000) trazem que é através da relação com o outro que o sujeito se desenvolve, compreende o que está ao seu redor estabelece relações com objetos de conhecimento.

É a partir da intervenção do outro que o objeto de conhecimento ganha sentido e significado. São as relações com as outras pessoas que vão atribuir aos objetos de aprendizagem significados afetivos; determinando uma forma ao objeto, chamado de internalizado. Sendo assim, pode-se abordar a influência de aspectos afetivos no processo de aprendizagem.

Pino (1997 apud TASSONI, 200, p. 4) diz que:

[…] os fenômenos afetivos representam a maneira como os acontecimentos repercutem na natureza sensível do ser humano, produzindo nele um elenco de reações matizadas que definem seu modo de ser-no-mundo.

Dentre esses acontecimentos, as atitudes e as reações do seus semelhantes a seu respeito são, sem sombra de dúvida, os mais importantes, imprimindo às relações humanas um tom de dramaticidade.Assim sendo, parece mais adequado entender o afetivo como uma qualidade das relações humanas e das experiências que elas evocam […] São as relações sociais, com efeito, as que marcam a vida humana, conferindo ao conjunto da realidade que forma seu contexto (coisas, lugares, situações ,etc.) um sentido afetivo. (PINO, 1997 apud TASSONI, 200, p. 4).

Kullok (2002) afirma que não existe afeto sem desenvolvimento cognitivo e nem desenvolvimento cognitivo sem afeto, além do que a afetividade influencia na atividade intelectual e que as atividades de aprendizagem da criança se dão através da junção da cognição e da afetividade.

Para aprender, são necessários dois sujeitos e um vínculo estabelecido entre ambos, pois não aprende-se o que qualquer um ensina, mas se aprende, sim, daqueles a quem permite-se ensinar algo. (FERNÁNDEZ, 1991 apud TASSONI, 2000).

É somente em um ambiente onde se mantém um cuidado constante com as relações interpessoais, com objetivo de melhorá-las que se tornam possível manter ou fortalecer sentimentos, emoções e vínculos fundamentais para o processo ensino e aprendizagem, com os alunos e com o conhecimento. (REBOLO, 2010).

Wallon (1971 apud TASSONI, 200, p. 7) defende, em sua teoria, o caráter contagioso das emoções. “A emoção necessita suscitar reações similares ou recíproca em outrem e, […] possui sobre o outro um grande poder de contágio”. Portanto o professor contagia e é contagiado nesta relação professor-aluno-afetividade e aprendizagem.

A relação estabelecida por professores e alunos é vista por muitos através da seleção de conteúdos, da organização didática para que o professor exponha seus conhecimentos. Porém, este paradigma precisa ser quebrado, pois esta relação vai além de ações cotidianas; o professor age como mediador do conhecimento e o aluno também ensina, há uma troca. E, para que isto aconteça, devem ser estabelecidos laços de afetividade entre os envolvidos, para que haja interesse e motivação de ambas as partes no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. (JESUS, [s/d]).

Enfim, como os vários autores colocaram a afetividade, esta se manifesta na relação professor-aluno como parte inerente do processo de construção do conhecimento.

Lembrando que construir o conhecimento envolve a utilização de conteúdos internalizados, muitos vindos das relações estabelecidas, inclusive nas escolas, em problemas e necessidades que se apresentam na vida escolar. (NAVARRO; SILVA, 2012).

3- METODOLOGIA 

Utilizando dessa estrutura teórica, optou-se por realizar este trabalho de natureza qualitativa, abordagem que lida com o âmbito de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes dos sujeitos, relacionadas a objetos ou eventos, de acordo com Minayo (1994). As pesquisas realizadas com essa natureza envolvem dados descritivos, tidos do contato direto com o pesquisador, os quais são acometidos pela situação estudada. Essa interpelação se preocupa em retratar as concepções dos participantes, exigindo assim, atenção por parte do pesquisador para assimilar as representações e ou significados que os sujeitos dão aos fatos que ocorrem em campo.

Assim sendo, foi selecionada como campo de pesquisa uma escola municipal localizada  na zona rural da cidade de Itaúna em  Minas Gerais. Nas proximidades da escola encontra-se um centro comunitário, uma instituição religiosa, uma quadra de esportes e casas de moradores da comunidade. A instituição atende alunos nos níveis e  modalidades de educação infantil e ensino fundamental I.

A escola funciona em turno matutino, possui uma grande infraestrutura com biblioteca, cantina, sala dos professores, três banheiros, cinco salas de aula, um amplo pátio coberto que em parte é usado como refeitório, mobiliário e armários.

Para realização deste estudo  foi realizada uma reunião com os responsáveis dos estudantes  onde estes, após receber informações sobre o teor da pesquisa, se voluntariaram a participar. Em seguida, foram realizadas entrevistas com o corpo docente e com os pais/responsáveis voluntários.  Realizou-se as entrevistas com quatro docentes, quatro responsáveis e após foi feita uma roda de conversa com os participantes.  Devido à maturidade e a dificuldade dos estudantes se expressarem frente a uma entrevista, optou-se por realizá-la com os pais e professores somente. O roteiro da entrevista considerou informações relacionadas à como se dá a relação professor-aluno, se esta relação influencia e é fundamental para aprendizagem e se são ou não fatores determinantes para obtenção de sucesso na aprendizagem.

Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999), por se tratar de um recurso interativo, as entrevistas deixam tratar de temáticas complexas que não seriam investigados satisfatoriamente através de questionários, explorando-os em profundidade. Ao partir das entrevistas, o pesquisador consegue assimilar melhor o significado atribuído pelos sujeitos sobre um determinado tema.

Para apresentação dos sujeitos da entrevista, o Quadro 1 possui informações sobre a formação, idade, entre outros. Destaca-se que os nomes utilizados no Quadro 1 são fictícios, a fim de assegurar o anonimato dos participantes. Ressalta-se que por se tratar de uma instituição de pequeno porte e com turmas multisseriadas, o corpo docente da referida escola é composto por apenas cinco professoras, sendo que uma delas realiza atendimento no PIP – Programa de Intervenção Pedagógica, metodologia usada na rede municipal para alunos com dificuldades ou defasagem de aprendizagem.

Quadro 1: Caracterização do grupo entrevistado 

Professoras
Entrevistado Profissão Formação Acadêmica Idade Turma(s) em que leciona
 

Joana

Professora Licenciatura plena em Pedagogia  

56

4º e 5º ano do

Ensino Fundamental

 

Liliane

Professora Licenciatura plena em Pedagogia e Pós-graduação em Educação Infantil  

46

1º e 2º Período da

Educação Infantil

 

Vanessa

Professora Licenciatura plena em Pedagogia e Pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva  

28

3º ano do

Ensino Fundamental

 

Fabrícia

Professora Licenciatura plena em Pedagogia e Pós-graduação em Libras  

29

1º e 2º ano do

Ensino Fundamental

Responsáveis
Entrevistado Profissão Formação Acadêmica Idade Nível de ensino em que o estudante está matriculado
José Autônomo Ensino Fundamental incompleto 42 2º período da Educação Infantil
Maria Dona de casa Ensino Fundamental completo 36 1º ano do Ensino Fundamental
Rita Diarista Ensino Médio completo 45 5º ano do ensino Fundamental
Ana Dona de casa Ensino Fundamental completo 40 3º ano do Ensino Fundamental

Fonte: Própria autoria.

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante as entrevistas foram feitos questionamentos às professoras e aos responsáveis pelos alunos sobre o quanto o ensino e a aprendizagem são marcados pela relação com o professor, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo de Bardin (1997). O uso desta técnica viabilizou assimilar as regularidades dos discursos e o agrupamento em classes: a relação professor-aluno no universo consensual e a relação professor-aluno no cotidiano escolar. Essas classes sinalizam para o leitor uma notável da representação social que é positiva para a proposta pedagógica da escola por parte dos docentes e responsáveis pelos alunos.

No universo consensual dos entrevistados são partilhados sentimentos, interpretações e significados na relação professor-aluno e no processo ensino-aprendizagem. Em seus discursos obtiveram destaques os seguintes trechos: “ser professor abrange despertar nos alunos valores, sentimentos como, por exemplo, amor a si mesmo e respeito ao próximo, o ambiente escolar prepara os alunos para a vida em sociedade” segundo a professora Joana. Já em sua exposição, a professora Vanessa diz que “o professor precisa estar atento não somente para formação do conhecimento, mas também com o processo de construção da cidadania, nós refletimos em nossos alunos valores e moldes da sociedade”. Trechos estes que coincidem com os argumentos de Abreu & Masetto (1990, p.115 apud  JESUS, [s/d], p.2)  quando dizem que:

É o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade. (ABREU; MASETTO, 1990, p.115 apud  JESUS, [s/d], p.2).

A professora Fabrícia afirma que: “esta relação vai muito além de ações cotidianas e rotineiras, como escolha de conteúdos e materiais didáticos, o professor ensina, aprende e participa do processo de aprendizagem”. Já na perspectiva da professora Liliane, a relação professor-aluno:

É algo incompreensível, indescritível, quando pensamos que ‘não vamos estabelecer vínculos’, as coisas acabam acontecendo involuntariamente, começamos e precisamos pensar nas peculiaridades de cada aluno ao planejar, ao escolher recursos e materiais, quando percebemos a afetividade já tomou conta da relação e é recíproco, pois os alunos retribuem quando percebem que, por exemplo, uma dificuldade é sanada a partir de estratégias que oferecemos.

Os depoimentos das professoras mostram que a relação estabelecida entre professores e alunos é essência do processo pedagógico, uma vez que ambos podem ensinar e aprender através de suas experiências. (SIQUEIRA, 2003).

Em conversa com os responsáveis pelos alunos pudemos observar que a prática educativa não é neutra, enfim, a postura do professor é origem de um reflexo e determinante para o desenvolvimento dos alunos. (BELOTTI, 2010). José, responsável por uma aluna do 2º período da Educação Infantil relata que:

Percebemos atitudes nela que muito nos lembram a sua professora, em casa ela usa falas e age de maneira muito parecida (risos). E o que a professora fala ‘vira lei’, eu e a mãe insistimos em certos assuntos, mas se a professora tiver falado que é de um jeito tem que ser e pronto! Ela ama vir para escola e percebemos seu carinho pela professora, acredito sim, que quando gostamos dos nossos professores aprendemos muito mais, isso é desde a minha época.

Rita, mãe de um aluno do 5º ano do Ensino Fundamental lembra que “ele teve uma professora quando começou na escola, que era muito agitada e isso assustava ele, ele tinha medo de falar e isso não colaborou para o aprendizado dele, pelo contrário, ficou muito repreendido e apresentou dificuldades e ficava com elas por medo”, percebe-se aqui a importância do que o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil diz:

[…]cabe ao professor propiciar situações de conversas, brincadeiras ou aprendizagens orientadas que garantam a troca entre crianças, de forma a que possam comunicar-se e expressar-se, demonstrando seus modos de agir, pensar, e de sentir em um ambiente acolhedor e que propicie a confiança e a auto-estima. (BRASIL, 1998, p.31).

Não é por acaso que Cury (2003, p.64) sugere:

Seja um professor fascinante. Fale com uma voz que expresse emoção. Mude de tonalidade enquanto fala. Assim, você cativará a emoção, estimulará a concentração e aliviará a Síndrome do Pensamento acelerado dos alunos. Eles desaceleraram seus pensamentos e viajarão no mundo das suas ideias. (CURY, 2003, p. 64).

Maria, mãe de um aluno do 1º ano do Ensino Fundamental diz: “acho muito importante o jeito como os professores tratam nossos filhos, confiamos em mandá-los para escola quando eles têm afeição com os professores e vemos que eles estão desenvolvendo, as crianças pegam gosto em aprender quando a relação aqui é boa.”

Já Ana, mãe de um aluno do 3º ano do Ensino Fundamental afirma:

Gosto quando o professor ou a professora, porque tenho uma filha em outra escola, é atencioso, demonstra carinho, tanto pelo que faz quanto pelos alunos porque assim eles ficam entusiasmados em aprender e nós pais percebemos quando o professor tem amor no que faz porque a ‘coisa’ (aqui ela se refere a aprendizagem) flui de uma forma incrível, a gente fica até pensando que mágica é essa?. (grifo nosso).

Como averiguado, há concordância com o fato de que a relação professor-aluno precisa descontrair o ambiente, respeitando os limites, as diferenças e incluindo todos os envolvidos nas atividades propostas, desenvolvendo seres com pensamentos críticos e autônomos, para que o educando participe ativamente da construção da sociedade em que está inserido com segurança. (BELOTTI, 2010).

De um lado é importante a relação de afetividade estabelecida entre alunos e professores para que o discente se desenvolva melhor, mas não se pode beneficiar um ou outro por afinidade ou empatia, essa atitude não condiz com um formador de opinião, que é o professor. (SIQUEIRA, 2003).

Elias (1999, p.99 apud SIQUEIRA, 2003, p. 97) diz que “[…] é por intermédio das modificações comportamentais da área afetiva que a escola pode contribuir para a fixação dos valores e dos ideais que a justificam como instituição social.”

Para Mahoney e Almeida (2004, p.18) “o afetivo é, portanto, indispensável para energizar e dar direção ao ato motor e ao cognitivo. Assim como o ato motor é indispensável para expressão do afetivo, o cognitivo é indispensável na avaliação das situações que estimularão emoções e sentimentos.”

Assim, baseado nas representações dos entrevistados percebe-se que é tarefa e desafio da escola a função de proporcionar aos alunos oportunidades de evoluir como seres humanos, a escola precisa conscientizar-se de que é uma instituição afetiva que complementa a família e que oferece vivências para formação de pessoas conscientes que cuidem de si e dos outros, que colabore com a sociedade, construindo valores básicos para toda a sua educação. (CAPELATTO, [s/d]).

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resposta aos objetivos desta pesquisa, pode-se considerar que o presente trabalho buscou compreender como a interação entre professor e aluno influencia na aprendizagem e se esta é perceptível por seus envolvidos. Desse modo, o grupo pesquisado apresentou representações significativas sobre a importância da interação entre professor e aluno e que o fator afetivo estabelecido entre estes tem grande influência no aprendizado do aluno em sala de aula.

Os trechos das entrevistas salientam que o professor atua como mediador do conhecimento sistematizado, mas também muito aprende com o aluno, aprendizagem essa que ocorre de maneira significativa e baseada numa relação de respeito, carinho e compreensão. Acredita-se que respeito e confiança são fundamentais, e quando o assunto é relação, interação logo se associa a parceria, companheirismo e afinidade ou falta dela.

Apresentou-se ao longo desse trabalho reflexões sobre a interação entre o professor e o aluno na percepção de professoras e responsáveis por alunos. Espera-se que as informações expressadas ao longo desse trabalho acadêmico contribuam para que o leitor compreenda a importância da relação entre o professor e o aluno no ambiente escolar e seus reflexos nas possibilidades de aprendizagem.

O conceito de afetividade nesta pesquisa pareceu estar bem definido entre os envolvidos, mas ainda assim, é algo a ser repensado na educação. Na interação entre professor e aluno, entende-se com este trabalho, que se vive num mundo com um turbilhão de informações e que a forma de se relacionar, de ensinar e aprender mudou com o tempo, talvez por esse motivo sejam necessárias novas propostas e possibilidades; mais motivadoras, criativas e críticas; com ambientes descontraídos, amigáveis, tendo como fator primordial a afetividade no desenvolvimento da aprendizagem.

Com relação à literatura sobre o tema, reitera-se que trata-se de um assunto bem estudado, porém por se tratar de um tema que não é tão palpável, sugerem a necessidade de estudar ainda sobre metodologias e formação de professores para que entendam e compartilhem da importância desta interação.

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Alessandra Batista Ferreira

Pós-graduanda em Docencia – IFMG campus Arcos

ales.ferreira494@gmail.com

 

Dandara Lorrayne do Nascimento

Mestranda em Modelagem Matemática e Computacional – CEFET-MG

dandaralno@gmail.com

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