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A OBRA NOVUM ORGANUM DE FRANCIS BACON COMPLETA 400 ANOS

A OBRA NOVUM ORGANUM DE FRANCIS BACON COMPLETA 400 ANOS

CELSO LUIS LEVADA

Professor aposentado da Academia da Força Aérea

RESUMO

O termo técnico tradicionalmente aplicado ao conjunto de obras lógicas de Aristoteles é denominado Organon. Ele contém toda a teoria aristotélica do método, ou seja, a estrutura de raciocínio e argumentação válidos aplicados em todas as ciências. Francis Bacon, em sua obra de 1620, intitulada Novum Organum, pretendia criticar e superar a concepção aristotélica de ciência, propondo um novo método que privilegia principalmente a experimentação.

Palavras chaves: Bacon, Aristoteles, Organum.

INTRODUÇÃO

Conforme menciona QUINTON(1) et al, Francis Bacon,  chamado de Visconde de Alban, também referido como Bacon de Verulâmio, filho de Nicholas Bacon e Ann Cooke Bacon, nasceu em Londres, 22 de janeiro de 1561 e faleceu em Londres, 9 de abril de 1626) foi um político, filósofo, cientista, ensaísta inglês, barão de Verulam e visconde de Saint Alban. É considerado como o fundador da ciência moderna. Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas.. Sucessivamente, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618).  Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do empirismo, sendo muitas vezes chamado de “fundador da ciência moderna”. Bacon estudou no Trinity College de Cambridge, onde mostrou profunda antipatia pelo programa de ensino  escolástico, tornando-se muito hostil a Aristosteles. Sua principal obra filosófica é o Novum Organum. Bacon é considerado o precursor da ciência moderna. O método de Bacon exige que os cientistas façam observações, formem uma teoria para explicar o que foi observado e depois teste a validade de suas respostas a partir de experimentos. Assim, se forem verdadeiros os resultados poderiam então ser enviados para revisão e constatação de outros cientistas.

AS OBRAS DE FRANCIS BACON

Com a intensa atividade política, Bacon conciliava uma intensa atividade intelectual. De acordo com SPEDDING(3) sua primeira obra publicada foi Ensaios, em 1597, dedicada a reflexões sobre moral e política. Em 1602, publicou Temporis partus masculus. Nessa obra, ele afirmava que filósofos como Aristóteles e Tomás de Aquino não tiveram o respeito necessário com a natureza, desconsiderando-a de suas reflexões. No ano de 1603, Bacon(3) publicou o De interpretatione naturae proemium, no qual ressaltava sua predisposição à reforma da cultura. Sua crítica à cultura e à tradição filosófica foi desenvolvida na obra Of Proficience and Advancement of Learning, Human and Divine , de 1605, e que foi ampliada em 1623. Foi neste ano que Bacon (3) analisou a decadência do saber e elaborou uma enciclopédia dividida em História, Poesia e Ciência para que o saber fosse compreendido, respectivamente, em sua relação com a memória, a fantasia e a razão. Assim, sua obra correspondia a todas as formas de conhecer da mente. Além dessa obra, temos Cogitata et visa (1607 e 1609), Redargutio philosophiarum (1608), De sapientia veterum (1608), na qual apresenta os princípios de sua filosofia, e a Descriptio globi intellectualis (1612). Foi em 1608 que Bacon(3) iniciou a escrita da sua obra mais conhecida, o Novum Organum, que foi publicada apenas em 1620.

ALGUNS ASPECTOS DO NOVUM ORGANUM

O termo técnico tradicionalmente aplicado  ao conjunto de obras lógicas de Aristoteles é denominado de Organon. Nele está contida toda teoria aristotélica do método, isto é, a estrutura do raciocínio válido e da argumentação aplicados em toda ciência. FRANCIS BACON(2), em sua obra, de 1620,  intitulada de Novum Organum pretendeu criticar e superar a concepção aristotélica da ciência, propondo um novo método que realça principalmente a experimentação. Neste estudo percebe-se que numa pesquisa, em primeiro lugar, deve-se acumular os fatos , em seguida, classificá-los; e finalmente, determinar sua causa. A formulação desse método experimental  e indutivo exige a eliminação de falsas noções primitivas, que Bacon denomina de ídolos. Assim sendo, podemos dizer que o Novum Organum tem como objetivos a fundamentação de um novo método científico e a defesa da lógica indutiva. O Novum Organum, na intenção do autor, deveria substituir o Organum aristotélico. O Novum Organum é escrito por BACON(2) em forma de aforismos, textos simples e assistemáticos em forma de axiomas, a obra estabelece uma nova regra debatedora às filosofias anteriores, ditadoras de uma filosofia universal, sistemática e doutrinária. Organon (do grego, ὄργανον) é o nome tradicionalmente dado ao conjunto das obras sobre lógica de Aristóteles. Significa “instrumento” ou “ferramenta” porque os peripatéticos consideravam que a lógica era um instrumento da filosofia e, a partir daí, passaram a designar o conjunto de textos de Aristóteles a esse respeito. Com essa denominação, os peripatéticos da Antiguidade Tardia marcavam uma diferença com relação aos estoicos, que por sua vez tomavam a lógica como uma parte da filosofia. Aristóteles era um filósofo peripatético, pois ensinava caminhando. Gostava de andar compassadamente em volta do perípatos de seu Liceu, hábito que deixou para os futuros pensadores e inspirou o que viria a se chamar Escola peripatética de Filosofia. Nesta obra Aristóteles apresenta sua lógica, essencialmente dedutiva, que deveria conduzir a filosofia à verdade. BACON(2) filósofo da modernidade opõe a esse método do estagirista e propõe um novo método, a indução por eliminação. A primeira parte da obra (a única que deteremos), chamada de interpretação da natureza e o reino do homem, o filósofo preocupa-se em demonstrar que os métodos vigentes, o dedutivo na filosofia e o indutivo por enumeração em algumas ciências eram improdutivos. Estagirita é uma pessoa que habita em Estagira (cidade da Macedônia), local onde nasceu Aristóteles. Associado a isso havia também os bloqueadores da razão que ele chamava de ídolos e por fim apresenta um novo método que visa à produção de conhecimentos mais coerentes. O problema da dedução é que ela em vez de interpretar a natureza, procura antecipá-la, deixando de lado o experimento e, baseando-se em axiomas gerais, julga tudo e fornece uma explicação para tudo, ou seja, constrói noções prematuras da natureza por utilizar um método inadequado. Por isso, conclui ele que, a lógica tradicional(2) era inútil para a pesquisa das ciências e para a filosofia. Como também a indução numérica cujos axiomas são extraídos indevidamente, por meio de uma passagem rápida e ilegítima de poucos casos particulares para o universal. Além de criticar o método vigente da época, apresentou os bloqueadores da razão humana, para o filósofo, aqueles que se detinham as especulações científicas e as reflexões filosóficas deveriam ter cuidado com os deturpadores da verdade que ele chama de ídolos. Esses são falsas noções que invadem o intelecto humano, tornando difícil o acesso à verdade. Há quatro tipos de ídolos: o da tribo, que é estruturada a partir da natureza humana, por causa da influência das vontades e dos afetos humanos; o da caverna que tem por base a individualidade, que é influenciado pela educação, os hábitos e costumes; o do foro que se origina das relações sociais há influência da linguagem; o do teatro que derivam das doutrinas filosóficas. Ao apresentar estes obstáculos da razão, bacon afirma que há a necessidade de um auxílio para a razão, por isso, estabelece uma nova lógica indutiva por eliminação. Esta consiste em extrair dos fatos particulares axiomas (médios) interpretativos da natureza, afim de, obter conhecimentos gerais mais seguros. A indução proposta por BACON(2) é chamada de eliminação, pois visa a partir de uma idéia básica de determinado fenômeno eliminar as hipóteses falsas com o intuito de fazer valer uma teoria verdadeira. Por tanto estes são as três temáticas trabalhadas por Bacon na primeira parte, criticar os métodos vigentes, expor os bloqueadores da razão e apresentar um novo método para a filosofia.

O QUE SÃO OS ÍDOLOS DE FRANCIS BACON

BACON(4) denominou ídolos as falsas noções que bloqueiam a mente e invadem o intelecto humano impossibilitando o acesso à verdade e gera dificuldades em relação às ciências, quando não os combatemos. Em sua teoria, os ídolos se classificam em quatro categorias: ídolos da tribo, ídolos da caverna, ídolos da foro e ídolos do teatro. Os ídolos da tribo são aqueles que se apoderam da própria natureza humana e não levam em conta o aprendizado sobre o universo, produzem uma certa espécie de superstição. Podemos dizer que ele tem sua origem nas ações humanas, nas limitações, preconceitos, sentimentos, incompetência. Um exemplo é a falsa ciência da cabala de sua época que imaginava uma realidade não inexistente numérica e os alquimistas que pensavam na atividade da natureza como na atividade humana, encontrando amor e ódio pelos fenômenos.  Ou também eles podem ser como um espelho que capta uma imagem de raio e a transmite de outra forma. Os ídolos da caverna fazem uma alusão à alegoria da caverna de Platão. Para o autor,  cada um tem a sua própria caverna, tem os seu jeito próprio de interpretar a natureza, todos os indivíduos vêem sua própria luz por ângulos diferentes e cometem erros diversos.  Com isso a luz da natureza entra em choque com a luz humana, pois cada um tem os seus ídolos da educação, do esporte, da cultura, da autoridade e daqueles que honra e admira a diversidade das falsas verdades que vão ocupando o intelecto humano. Os ídolos do foro ou do mercado podem ser um dos mais incômodos, pois podem invadir o intelecto através das palavras. São aqueles erros encontrados nas palavras ou nos discursos humanos quando o diálogo sai ao contrário ou a palavra é distorcida pelos homens “sábios” que usam de suas oratórias para enfatizar o discurso.  Segundo Bacon, “as palavras cometem uma grande violência ao intelecto e perturbam os raciocínios, arrastando os homens a inumeráveis controvérsias e vãs considerações”. Os ídolos do teatro são aquelas teorias que não têm harmonia com a natureza humana ou obras filosóficas que se consagraram figurando mundos fictícios, como aquelas que encontramos na filosofia antiga ou nas tradições religiosas.  Bacon acusa Aristóteles de ter sido um dos piores sofistas e Platão de ter confundido filosofia com teologia. Para expulsá-los é preciso ter conhecimento dos mesmos a fim de expurgá-los da mente, além de conhecer um novo método. É a verdadeira indução o método proposto, pelo qual o homem poderia construir uma nova ciência capaz de interpretar corretamente a natureza e realizar os anseios do espírito moderno.

OS ATRIBUTOS DO ÁTOMO EM FRANCIS BACON

Para REES(6) em relação ao atomismo, não há unanimidade entre historiadores recentes sobre a teoria da matéria de Francis Bacon. Existe desacordo em particular sobre as idéias atomistas e animistas de Bacon, pois, embora Bacon tenha mudado suas opiniões sobre o atomismo repetidamente, ele nunca o rejeitou completamente. Bacon nunca sustentou uma teoria ortodoxa da matéria atomista sendo que a  questão da coexistência de atomismo e pneumatismo na teoria de Bacon,  foi muito discutido nas influentes interpretações de Kargon e Rees(6). No entanto,  Bacon nunca considerou essas duas doutrinas incompatíveis. Na obra Baconiana intitulada Las Cogitationes, os átomos são responsáveis ​​pela extrema sutileza da natureza. Em De principis, Bacon continua concedendo a eles uma série de atributos que lhes permitem expressar essa sutileza, sustentando que as primeiras entidades não são coisas abstratas, como muitas teorias assumiram erroneamente, mas sempre carregam matéria, forma e ação. Essas primeiras entidades(7) são precisamente átomos, cuja existência na natureza deve estar além de qualquer dúvida. No entanto, esses átomos não se assemelham a nenhum corpo que possamos conhecer perceptivamente. Portanto, os átomos não são como faíscas acesas, gotas de água, bolhas de ar, partículas de poeira, nem pequenas quantidades de éter.  Para justificar a afirmação de que átomos são os princípios das coisas, Bacon(7) aponta que o átomo é a matéria prima, princípio ou causa de todas as coisas que eles possuem como sua primeira forma um apetite por autopreservação. O argumento tácito de Bacon deveria ter sido o seguinte: se a matéria-prima tem alguma forma não específica, essa forma deve ser a mais simples possível, ou seja, sua forma será a corporeidade, entendida como um quantum material extensivo. Com a teoria do quaternion, vemos que, em última análise, Bacon não era um filósofo mecanicista. No Novum Organum, então, Bacon rejeitou a “existência de átomos eternos e imutáveis e a realidade do vazio.  Bacon chegou à conclusão de que a teoria atomista não poderia fornecer explicações suficientes para as partículas reais, como as que realmente existem, porque ele pensava que a imutabilidade da matéria e o vazio eram insustentáveis.

SOBRE A NATUREZA DO CALOR

No final do século XVII, a hipótese mais aceita sobre a natureza do calor considerava-o como uma substância fluida indestrutível que preencheria os poros dos corpos e se escoaria de um corpo mais quente a um mais frio. Lavoisier chamou essa substância hipotética de “calórico”. A hipótese rival, endossada entre outros por Francis Bacon e Robert Hooke, foi expressa com os dizeres de que o calor consiste num minúsculo movimento de vibração das partículas dos corpos.  Pode ser observado no texto de BATISTA(5) um exemplo dado por Bacon em seu Novum Organum  que é o exame da natureza do calor. Ele identifica calor como “um rápido movimento expansivo de pequenas partículas dos corpos, partículas impedidas de escapar pela superfície do corpo”. Se o calor estiver presente, estará presente o movimento de expansão e vice-versa. Para facilitar a análise(5), ele cria duas tabelas, a primeira das quais ele nomeia “Tabela de Essência e Presença”, enumerando as muitas diversas circunstâncias em que encontramos calor. Na outra, denominada “Tabela de Desvio, ou de Ausência na proximidade”, ele lista as circunstâncias que levam semelhança com os da primeira tabela, exceto pela ausência de calor. A partir de uma análise do que ele chama as naturezas dos itens (emissor de luz, pesado, cor, etc.) são apresentadas a conclusões sobre a natureza , ou causa, de calor. Essas naturezas que estão sempre presentes na primeira tabela, mas nunca na segunda,  são considerados a causa do calor. O processo mais trabalhoso do cientista seria a de reunir os fatos, ou condições necessários para criar as tabelas de presença e ausência. Tais fatos consistiriam de  documentar uma mistura de conhecimento comum e os resultados experimentais.  Do ponto de vista conceitual,  Bacon defendia uma concepção de calor como movimento, sugerindo uma idéia de calor associado ao movimento de matéria constituinte do corpo, do objeto considerado. Para Bacon, a calor não atuava como gerador de movimento, mas o calor em  si ou algo intrínseco a ele é o movimento. Falando sobre a movimentação do ar, Bacon deixa claro sua opção em adotar a origem do calor como sendo a movimentação das partículas que constituem a matéria. Em todas e em cada uma das instâncias em que a limitação é o calor, a natureza parece ser o movimento. Isso é manifesto na chama, no seu perpétuo mover, nos líquidos aquecidos ou ferventes, também sempre em movimento. Fica igualmente claro, quando se excita o calor pelo movimento, como acontece com os foles e com o vento. O mesmo pode ser dito de outros tipos de movimento. Isso também se observa na extinção do fogo e do calor, por qualquer forte compressão que refreia e interrompe o movimento. Fica igualmente claro que todos os corpos se destroem ou, pelo menos, se alteram consideravelmente, por qualquer fogo ou calor forte e veemente, daí se seguindo que o calor produz um movimento forte, um tumulto ou perturbação nas partes internas do corpo, que gradualmente caminham para a dissolução.  Como exemplo de instâncias onde há calor constante na primeira tabela Bacon cita: 1) os raios do sol; 2) todo corpo que tenha um forte atrito; 3) a cal viva, aspergida com água etc.; enquanto as instâncias onde o calor não está presente, coletadas na segunda tabela, seriam: 1) os raios da lua; 2) o ar, que possui calor apenas em certas condições; 3) alguns metais mais moles e instáveis etc.; ao passo que a terceira tabela, destinada a reunir as instâncias onde o calor varia, conteria: 1) o enxofre, que parece ter um calor potencial; 2) os animais, que mudam de temperatura, quando têm febre, por exemplo etc.

A COSMOLOGIA DE FRANCIS BACON

O sistema cosmológico de Bacon é o resultado de experimentos e especulações de pensamento, pressupõe um universo finito, num cenário geocêntrico, o que significa que a Terra é imóvel. Bacon assume quatro tipos de elementos primários da natureza : ar e fogo terrestre, que se referem ao reino sublunar; éter e fogo sideral, que são relevantes para o reino celestial.  A teoria do quaternion de Bacon funciona em seu pensamento como um elemento construtivo para constituir sua própria teoria do movimento planetário e uma teoria geral da física. Ele aplica sua teoria do movimento consensual à física em geral (por exemplo, vento e marés) e, portanto, entra em conflito com a doutrina de Gilbert sobre o vácuo interestelar e a teoria das marés de Galileu. Francis Bacon desenvolveu o projeto de uma cosmologia vitalística e alquímica. Eventualmente, este foi um inacabado , deixado em manuscrito e publicado tarde demais para impressionar qualquer um de leitores do final do século XVII. As visões de Bacon sobre astronomia, astronomia e a constituição dos céus sob uma perspectiva diferente, na contexto maior da própria proposta de Bacon de uma ‘Astronomia Viva’ reformada. Bacon usa dois conceitos básicos, o princípio e a origem, com o objetivo de organizar sua doutrina cosmológica mais claramente em seus textos alegóricos. A fábula de Cupido representa o começo do mundo, enquanto a fábula do Céu fala das origens do mundo. Como cada um representa uma etapa diferente na cronologia do cosmos, os principia rerum (átomos da matéria-prima) devem ser estudados antes das origens mundi do que as formas do sistema mundial. Bacon introduz uma inovação na mitologia do século XVI, identificando Cupido com o átomo. Ao fazê-lo, modifica substancialmente a concepção vulgar dos primórdios do mundo, estabelecendo um elo primário entre o Caos e o Cupido. A massa total da matéria nada mais era do que o agregado de partículas atômicas. Essa coexistência de Caos e Cupido se perde quando a estrutura fenomenal do mundo  é criada por Deus, e toda matéria preexistente atinge sua especificação máxima. No mundo divino, os átomos vão da desordem à ordem, produzindo estruturas atômicas ordenadas, mantendo a forma bruta e essencial da matéria. Na fábula do céu, Bacon descreve outras características das origens do mundo. A breve referência ao mito do céu em De principiis deve ser lida à luz da explicação oferecida em De sapientia veterum, onde Bacon associa Cielo ao atomismo de Demócrito. O mito do céu fala dos vários períodos das origens do mundo, que vão do caos ao presente. O céu representa o espaço côncavo que compreende a matéria. Mundos multiformes que poderiam ter sido modelados a partir de átomos infinitos poderiam ter sido fechados e até esféricos, assim como nosso mundo visível. Além disso, embora um universo infinito não pudesse possuir um centro absoluto, poderia conter partes esféricas. Em outras palavras, na perspectiva de Bacon, Demócrito analisou corretamente as partes do mundo, mas não foi capaz de explicar sua estrutura geral (integralibus mundi). Enquanto Bacon rejeita a noção de um mundo infinito, ele reconhece, por sua vez, o grande valor das explicações físicas de Demócrito sobre o que está “dentro do mundo”.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a visão de Bacon aponte para o reducionismo científico por meio da indução, sua contribuição certamente abriu possibilidades para a eclosão do século do método (XVII). Ao pensarmos numa ciência experimental que em si apresentasse caminhos metodológicos precisos, devemos nos reportar ao empenho de Bacon que, para além de seu tempo projetaria tal perspectiva numa leitura distinta do tempo cronológico em que vivia. Nisto reside o papel do pesquisador, conhecer e indagar-se do mundo, de suas manifestações, de suas cosmovisões, mesmo que de forma fragmentada, porém numa lógica dinâmica na construção do conhecimento.Diferentemente de Aristóteles, que acreditava na disposição humana inata para o conhecimento, Bacon pensava que era preciso preparar a mente do homem, eliminando os ídolos que poderiam comprometer seu entendimento. Outra diferença entre eles é o papel da experimentação: Aristóteles não realizava experimentos para comprovar suas afirmações, enquanto Bacon realizava experimentos falseadores, ou seja, experimentos pelos quais tentava refutar e comprovar suas teorias em um contínuo “interrogar a natureza”. O Novo Organum foi organizado didaticamente por Bacon em duas partes (LivroI e II). Nas duas partes desenvolve sua proposta metodológica em forma de axiomas. Axiomas são breves sentenças de índole afirmativa, negativa ou interrogativa que podem contemplar e finalizar um raciocínio ou podem se encadear com outros axiomas derivados ou não. Assim, o livro I é composto por 130 axiomas e o Livro II por 52.  Alguns pesquisadores indicam que Francis Bacon foi autor de obras mistico religiosas   e também um alquimista. Outros estudiosos apontam como sendo o real autor dos famosos manifestos rosacruzes, Fama Fraternitatis (1614), Confessio Fraternitatis (1615) e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz (1616). Bacon interessava-se por astrologia e tentou formular uma ciência empírica baseada na co-relação das conjunções astrológicas e os fatos históricos. Se tivesse levado a cabo esse projeto, a ciência hoje seria completamente diferente, porém,  pressões acadêmicas da época forçaram-no a abandonar a empreitada. Não resta dúvida de que o método baconiano está superado em grande parte. Não obstante, representou em uma dada época o alicerce necessário para o avanço da ciência. A ciência atual não se limita ao trabalho de experimentação, catalogação e indução, como defendia nosso autor. Porém, vale frisar que “o próprio Bacon previa a redução gradual de seu método; a prática da ciência iria descobrir melhores modos de investigação do que aqueles que podiam ser criados nos interlúdios da condução dos negócios públicos”. Não se pode negar, todavia, a importância de Bacon na história da ciência.

      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. QUINTON, A.M. et al – FRANCIS BACON’S BIOGRAPHY, Encyclopædia Britannica text available in https://www.britannica.com/biography/Francis-Bacon-Viscount-Saint-Alban
  2. BACON, F. Novum Organum www.virtualbooks.com.br/ Copyright© 2000/2003 Virtualbooks Virtual Books Online M&M Editores Ltda.- Pará de Minas – MG/Brasil- text available in edisciplinas.usp.br› content › francis_bacon_novum_organum
  3. SPEDDING, J. ; LESLIE ELLIS,R. and DENON HEATH,D. – The Works of Francis Bacon, Baron of Verulam, Viscount St Albans and Lord High Chancellor of England (15 volumes). Londres. Textbooks available in http://onlinebooks.library.upenn.edu/webbin/metabook?id=worksfbacon
  1. BACON, F. Novum Organum ou Verdadeiras Indicações acerca da Interpretação da Natureza; Nova Atlântida. São Paulo: Nova Cultural, 1997. 255p.
  2. BATISTA, G.A.- FRANCIS BACON: para uma educação científica, Revista Teias v. 11 • n. 23 • p. 163-184 • set./dez. 2010, text available in www.e-publicacoes.uerj.br › revistateias › article ›
  3. REES, G. (1980)Atomism and ‘subtlety’ in Francis Bacon’s philosophy,  Annals of Science,  37:5, 549-571,, text available in https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00033798000200391?journalCode=tasc20
  4. KLEIN, J. , “Francis Bacon”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2016 Edition), Edward N. Zalta (ed.), text available in https://plato.stanford.edu/cgi-bin/encyclopedia/archinfo.cgi?entry=francis-bacon

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