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Contribuições da Entrevista Narrativa Ressignificada na Pesquisa em Educação

Contribuições da Entrevista Narrativa Ressignificada na Pesquisa em Educação

 

Vanessa da Conceição Nascimento Pereira[*]

Rozane Alonso Alves[†]

Vanessa da Conceição Nascimento Pereira – Acadêmica do Curso de Letras/Inglês da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA. Email: vanessapereira16303@gmail.com

Resumo: A proposta central deste artigo é perceber as implicações metodológicas do uso da entrevista narrativa ressignificada a partir dos trabalhos da pesquisadora Sandra dos Santos Andrade. O texto também está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado Subversão e resistência nas políticas e práticas pedagógicas no contexto da Educação de surdos em Humaitá – AM discussão institucionalizado junto a Universidade Federal do Amazonas – UFAM.

Palavras-Chave: Entrevista Narrativa Ressignificada, Andrade, Pesquisa em Educação,  Contribuições Metodológicas.

Contributions of the Resignified Narrative Interview in Education Research

Abstract: The central purpose of this article is to understand the methodological implications of the use of a reframed narrative interview based on the work of researcher Sandra dos Santos Andrade. The text is also linked to the research project entitled Subversion and resistance in pedagogical policies and practices in the context of Education for the deaf in Humaitá – AM institutionalized discussion with the Federal University of Amazonas – UFAM.

Keywords: Narrative Interview Resignified. Andrade. Education Research. Methodological Contributions.

 

 

Entrevista Narrativa Ressignificada na Pesquisa em Educação

 A tese realizada por Sandra dos Santos Andrade, intitulada “ Juventudes e processos de escolarização: uma abordagem cultural, trata-se de um trabalho que traz uma abordagem cultural, sobre a escolarização de jovens e adultos de base etnográfica para analisar o cotidiano escolar desses jovens. Inicialmente verificamos que a escolha do tema propõe uma reflexão sobre a juventude, especificamente se pensarmos nas relações de inclusão/exclusão construídas no espaço escolar.

Mas o que seria juventude? Sabe-se que embora exista uma variação de idades para determinar o ser jovem ou ser adulto, a juventude é entendida como um tempo de construção identitária e de se planejar o futuro, ou seja, ingressar-se na sociedade, assumindo um papel social, trabalho, e, consequentemente, possuindo bens pessoais através do seu próprio dinheiro.  Conforme Andrade expõe:

[…] a juventude compreende uma fase marcada por processos de definição e inserção social, que é momento da escolha profissional, de ingresso no mercado de trabalho, de participar de espaços de lazer antes não permitidos, de consumir determinados tipos de produtos e de se responsabilizar-se pela organização do seu dinheiro” (ANDRADE, 2008, p.11)

Neste sentido, entende-se que a juventude se direciona, de certa forma, para a ideia de emancipação, pois prevê que o jovem entre ativo na sociedade, em diferentes contextos da vida. Ainda nesta etapa, observa-se diferenças culturas e desigualdades sociais, se tratando de processos de inclusão/exclusão, que ocorrem, por exemplo, do tripé, gênero, raça/cor e classe social. Sobre esse viés, a autora afirma que:

Gênero, classe social e raça/cor são operadores importantes na construção do sujeito excluído ou incluído na educação escolar, e, como consequência de outras instâncias da esfera social. Isso supõe considerar que discursos distintos interpelam os jovens, constituindo-os enquanto jovens de um determinado tipo, mas que esta interpelação não se dá do mesmo modo para todos/as e nem produz os mesmos efeitos” (ANDRADE, 2008, p. 15).

Rozane Alonso Alves – Professora Dra Rozane Alonso Alves. Professora do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Email: rozanealonso@ufam.edu.br

Mediante essas situações presentes no contexto escolar, a pesquisa de Andrade pauta-se em entrevistar alunos que sofreram inclusão/exclusão escolar, e, passaram do ensino regular, para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), em uma escola noturna de Porto Alegre, considerada de periferia, que será tratada posteriormente.

Sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA), é considerado um ensino com grandes particularidades e a diversidade de perfis, seja idade ou classe social. Os alunos, infelizmente, são colocados na posição de repetentes, defasados, que não completaram o ensino no período “correto”, tendo que migrar para o ensino noturno, na tentativa de concluírem e não serem rotulados como “inferiores”.  Esse trecho se dá, pois segundo Andrade “os alunos e alunas da EJA, são vistos, pelos graduados/as, como multirrepetentes, defasados, deficientes, os quais saíram e voltaram para a escola, por diversos motivos, uma ou mais vezes” (ANDRADE, 2008, p. 19).

Dentro deste contexto, vale ressaltar que muitos se encontram sozinhos, pela condição de excluídos da escola, pelas razões já citadas, mas também pela ausência das políticas públicas com relação a essa forma de ensino, pois nas observações realizadas por Andrade, foi possível perceber que a escola do objeto de estudo, situada na periferia, encontra-se mal estruturada, não transmitindo segurança aos alunos (pela presença constante dos traficantes da região), falta de adaptação no ambiente escolar (ocasionando desistência de alunos que necessitam deste ambiente adequado para maior desempenho, seja de aprendizagem ou locomoção), sendo não apenas uma realidade restrita, mas de tantas outras instituições de ensino no Brasil, que levam fortemente a evasão escolar, “ Estas são questões   eu fazem parte de uma composição que é social e estrutural, bem mais ampla do que pode dar conta o âmbito pedagógico” (ANDRADE, 2008, p.108).

Para que esses dados fossem construídos, foram utilizados como processo metodológico, a perspectiva etnográfica pós-moderna:

Essa perspectiva aceita a instabilidade de não ter certezas, a provisoriedade, a transitoriedade e a contingência dos dados, a impossibilidade de neutralidade e/ou de localizar a verdade mesmo, permitindo ver e indicar as diferentes possibilidades de investigar um só contexto, com a escola e sujeitos jovens, a partir de múltiplas abordagens. (ANDRADE, 2008, p. 27).

Dessa forma, entende-se que o método etnográfico é uma experiência, e esta, se tratando da experiência do outro, que está sendo narrada, escrita, interpretada se constitui diferentes possibilidades de se olhar para a construção dos dados, nos permitindo desvendar inúmeras vertentes, uma vez que o compromisso não se pauta em ditar a verdade, mas sim analisar as narrativas em diferentes contextos e em diferentes perspectivas.

Dessa forma, Andrade empregou esse método, primeiro através de conhecer, obter informações acerca da temática e da comunidade escolhida para o estudo, assim sendo, permitiu-se adentrar e colher informações antes mesmo de conviver no objeto de estudo (Escola/alunos). “ Em função das investigações feitas sobre o bairro e a escola, das primeiras impressões” (ANDRADE, 2008, p. 25-26), bem como, da “ […] viagem empreendida ao campo da pesquisa, das experiências vividas, das proximidades e distanciamentos, das familiaridades e estranhamentos que foram traçando o percurso da investigação” (ANDRADE, 2008, p. 25-26), é dessa forma que a tese “estabelece e assume, então, seus diversos encontros com a pesquisa etnográfica e a escrita que dela deriva” (ANDRADE, 2008, p. 26).

Ainda sobre a escrita etnográfica, caracterizada aqui como a forma de narrar as experiências, isto é, o modo etnográfico permite “ estar lá e de posteriormente olhar o material empírico, estando aqui, foi um estímulo a diferentes formas de pensar e ver o outro em sua alteridade” (ANDRADE, 2008, p 28). Nesta perspectiva, também corrobora para que aquilo que é visto, vivido e ouvido auxilie de forma significativa na análise das narrativas dos jovens, uma vez que “ Tais narrativas, tornam-se assim, instrumentos produtivos para compreender, em alguma medida, as vidas humanas e seus condicionantes culturais e sociais, não pela compreensão mesma do outro, mas pela via da interpretação permitida à pesquisadora a partir de seus próprios condicionantes” (ANDRADE, 2008, p. 28).

Neste sentido, entende-se que as narrativas são as principais fontes do pesquisador no que se refere em assimilar as realidades dos sujeitos, enquanto indivíduos com diferenças sociais, econômicas e sociais, mas não necessariamente tendo as mesmas interpretações do pesquisado, mas sim a possibilidade da pesquisadora determinar para que viés pretende seguir.

Ao tratar os processos de inclusão e exclusão dos alunos e alunas na Educação de Jovens e Adultos, Andrade utilizou também uma perspectiva pós-estruturalista, caracterizada aqui por permitir a possibilidade para a pluralidade de sentidos, ou seja, visa “desdobrar o tema em outros ângulos e questões ainda não exploradas” (ANDRADE, 2008, p.14). Dessa maneira, buscando analisar os diferentes ângulos, sem ditar a verdade, mas sim compreender o que levam a essas diferentes perspectivas. O pós-estruturalismo se inclui neste contexto, tendo como principal propósito:

A produção do sujeito se dá no âmbito da linguagem, na relação com as forças discursivas que o nomeiam e governam, sendo a escola um desses locais da cultura no qual se produz e se nomeia o sujeito (jovem/velho, analfabeto/alfabetizado, normal/anormal, competente/fracassado, incluído/excluído, estudante regular/estudante EJA..), por meio da forma como se organiza o espaço escolar, da seleção daquilo que conta como conteúdo válido ou não para ser ensinado,, das relações que se estabelecem professores/as e alunos/as. (ANDRADE, 2008, p. 22)

Dentro desse contexto, se as pesquisas pós-estruturalistas visam “ a produção do sujeito que se dá no âmbito da Linguagem” (ANDRADE, 2008, p.22), as entrevistas narrativas partem desse contexto, do qual as falas dos jovens trazem a tona suas singularidades, pois “ a linguagem está impregnada de subjetividades” (ANDRADE, 2008, p.26), sobre as narrativas, a autora se refere como “ o conjunto de narrativas que constituem o corpus da pesquisa como práticas discursivas que agregam um conjunto amplo de expressões e elementos ligados a instituições ou situações especificas” (ANDRADE, 2008, p.52). Nesse âmbito, esses discursos trazem consigo diversos modos de pensar e de manifestação dos sujeitos, pois “através da narrativa, é possível reconstruir as significações que os sujeitos atribuem ao seu processo de escolarização, pois falam de si, reinventando o passado, ressignificando o presente e o vivido para narrar a si mesmos (ANDRADE, 2008, p. 49).

Em suma, a pesquisa aqui apresentada, com foco nas perspectivas etnográficas e pós-estruturalista, esta última, como podemos observar evidencia o sujeito, em seu contexto, histórico, social e cultural, permitindo-nos a compreendê-lo em diferentes contextos, dando-lhe voz sob sua subjetividade.

Referências

ANDRADE. Sandra dos Santos. Juventudes e processos de escolarização: uma abordagem cultural. Porto Alegre: UFRGS, 2008.

ANDRADE. Sandra dos Santos. O que fazer ano que vem? Articulações entre Juventude, Tempo e Escola. Minas Gerais, EDUR – Educação em Revista, 2017.

[*] Acadêmica do Curso de Letras/Inglês da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA. Email: vanessapereira16303@gmail.com

[†] Dra em Educação. Professora da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA. Email; rozanealonso@ufam.edu.br

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