Gilberto da Silva

A Flor da Obsessão

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Quem a vê chegando ao trabalho – toda tímida – olhar cabisbaixo e sorriso escasso não pode imaginar o que a garota carrega em sua mente.
Quem há vê pelos corredores a andar séria, elegante, só pode pensar numa mulher pudica, quase santa, não sagrada. Mas profana, mundana, que contarei aqui, com sua permissão, um pouco da sua história.
Minhas amigas oriundas do feminismo que me perdoem. Minhas colegas corolas oriundas de um purismo estéril relevem… O objetivo aqui é não deixar para trás uma pequena história.
Ela tinha uma estranha obsessão: olhar para as partes baixas dos homens nos coletivos. Sentada, a moça focava na faixa preferencial do olhar: fixo, medidor, seletivo – “pequeno… médio… grande”!!!
Assim, não pense numa Dama do Lotação, produto característico do saudoso Nelson Rodrigues. Uma dubiedade? Mas nem puta, nem santa; nossa moça é apenas mulher com seus desejos e seus pecados.
Meus colegas machos desculpem, mas o que eu vou relatar nessas curtas linhas é fruto da observação antropológica que realizei com uma colega. Mas uma antropologia de gabinete, nada de pesquisa de campo, ou coisa parecida. Nada de sacanagem espúrias, condenáveis do tipo que presenciamos diariamente no nosso transporte coletivo.

Gilberto da Silva é formado em sociologia e jornalismo, mestre em Comunicação pela Faculdade Casper Líbero. Foi professor do ensino secundário. Professor universitário e edita a revista virtual P@rtes (www.partes.com.br).
Gilberto da Silva é formado em sociologia e jornalismo, mestre em Comunicação pela Faculdade Casper Líbero. Foi professor do ensino secundário. Professor universitário e edita a revista virtual P@rtes (www.partes.com.br).

Tímida, raras vezes arriscava um olhar acima da linha do equador. Rápida no pensamento imediatamente ia definindo sua presa: “bom nos baixos, bonito nos altos” e assim realizava a sua classificação seletiva. Ela adorava sentar no banco próximo à lateral. Aqui a aproximação era quase inevitável.
Seus horizontes e suas visões. Em determinados momentos sentia um misto de prazer e ódio. Queria mais, sentia-se atraída pelo inusitado. Nada se sustentava ou contentava a sua curiosidade pela observação do sexo oposto. Carnal, sonhava.
Imaginativa, criava cenas e cenários de alcova. Sentindo-se pecadora, rezava. Clamava perdão por pensamentos tão fora de seus padrões religiosos.
A Flor permanece em sua mobilidade, sei que ainda perambula por vias e coletivos em busca de seu monte sagrado….

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