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“A gente só qué passá!”

O trânsito caótico não é “privilégio” das metrópoles: cidades médias já sofrem com ele!
A maior vítima desse contexto é a mobilidade urbana, com implicações diretas no comportamento das pessoas.
Como alternativa para “fugir” dos congestionamentos, profissionais e empresas recorrem às motocicletas, mais ágeis e baratas, cujas vendas dispararam, transformando-as em meio de vida para muitos, criando até novas funções, como os “motoboys”, hoje, sinônimo de “delivery”, tipo exportação.
Isso é muito bom para os clientes, mas a baixa remuneração por entrega, associada à intempestividade de seus condutores, têm aumentado dramaticamente o índice de acidentes com motociclistas.
O “marketing” da “sensação de liberdade” sem limites, também contribui para esse quadro, pois a publicidade parece ter subido à cabeça de alguns motociclistas, que perderam completamente a noção de perigo.
Faixas exclusivas são criadas, mas desrespeitadas. O trânsito está parado, mas alguns insistem em pilotar sobre as faixas divisórias, em alta velocidade; ultrapassando pela direita, inclusive em cruzamentos, com direito a “fechadas” e “costuradas” monumentais; pilotando na contramão, etc.
A frase do personagem “motoboy”, de Marco Luque, exemplifica perfeitamente a irresponsabilidade quase infantil de alguns deles: “A gente só qué passá!”.
A impunidade também contribui para essa escalada de abusos e acidentes, pois carros e caminhões são objetos de legislações rigorosas sobre trânsito e emissão de poluentes, que ainda não foram estendidas às motos, ou a fiscalização faz “vistas grossas”.
Aliás, porque as placas de motos são menores que as dos demais veículos? Os traseiros dos pilotos, salvo engano, são maiores do que as utilizadas em carros!
Outro dia, presenciei uma cena que demonstra bem essa inconsequência “cultural”:
Estava com meu carro parado, no sinal, quando escutei um ruído na lataria. Olhei e vi que um motociclista havia se enfiado entre o meu e o carro ao lado. Havia três pessoas sobre a moto: o piloto, uma mulher e, entre eles, uma criança. O piloto, após passar, começou a mexer no pé da criança que, espremida entre os dois tinha as pernas mais abertas.
Fora o pé da criança que havia batido no carro! Dependendo da situação e velocidade, ela poderia ter sofrido uma fratura gravíssima!
Para piorar, ela estava sem capacete!
Quando o sinal abriu, o piloto partiu, ziguezagueando, o que me inspirou cuidado ainda maior para ultrapassá-lo.
Alertei e passei a uma distância segura, para constatar que, como se não bastasse, o condutor pilotava com uma mão, enquanto falava ao celular… E continuou assim ao entrar numa rua, sem preferência, cruzando-a sem reduzir velocidade.
Irresponsabilidade análoga também pode ser encontrada em motoristas e ciclistas, e incentivar tipo “A” ou “B” de veículo não significa tolerar indefinidamente atos inseguros ou ilegais.
Para coibi-los, campanhas de orientação são indispensáveis. Mas, é fundamental acabar com essa impunidade festiva e potencialmente mortal.

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