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A Educação e o Paradigma Técnico Científico: as transformações da economia no século XX e as políticas emergentes em educação

Márcio José da Silva[1]

Resumo:

Este artigo fundamenta concepções teóricas no contexto das transformações técnico-científicas proporcionadas pela sociedade contemporânea, discute as relações de trabalho diretamente relacionadas ao mundo globalizado; aborda os ajustes e avanços tecnológicos e ações da escola frente a essas mudanças, intimamente relacionadas com as ações políticas exigidas pelos cenários econômicos, uma vez que o mundo globalizado exigiu uma discussão principalmente nas relações de trabalho e a globalização caminha passos apressados na nova ordem mundial.

Palavras chave: Educação, Paradigmas, Transformações técnico-científicas, Globalização.

Abstract

This article bases theoretical conceptions in the context of the technical-scientific transformations provided by the contemporary society, discusses the labor relations directly related to the globalized world; It addresses the adjustments and technological advances and the school’s actions in the face of these changes, closely related to the political actions demanded by the economic scenarios, since the globalized world demanded a discussion mainly on labor relations and globalization is moving fast in the new world order.

Keywords: Education. Paradigms. Technical-scientific transformations. Globalization 

 

 

Introdução

 

Nas discussões constantes sobre a qualidade da educação brasileira, um dos quesitos de amplo debate tem sido a formação do educador. Embora sempre se justifique os aspectos negativos às ações políticas, às mudanças na esfera econômica e social, às exigências impostas pelas transformações tecnológicas no novo cenário do mundo globalizado.

As concepções teóricas no contexto das transformações técnico-científicas proporcionadas pela sociedade contemporânea estão intimamente relacionadas com as ações políticas exigidas pelos cenários econômicos de cada momento histórico vivido.

O mundo globalizado exigiu uma discussão principalmente nas relações de trabalho. A globalização caminha passos apressados na nova ordem mundial. As relações de trabalho passam exigir maior qualificação e competências, o mercado passa ser mais exigente e competitivo.

 Diretamente relacionadas ao mundo globalizado, os ajustes dos avanços tecnológicos reflete na escola seu ponto culminante. A escola não caminha na mesma proporção.

As ações da escola frente a essas mudanças, ajustes, avanços tecnológicos implicam em mudanças de paradigmas, os quais são abordados neste artigo.

A escola não tem conseguido alcançar seus objetivos quanto aos aspectos da qualidade do ensino e principalmente quando se compara níveis em relação a outros países como Japão, Indonésia, Rússia, Estados Unidos, dentre outros, os quais têm na educação seu foco principal.

  1. Concepções teóricas no contexto das transformações técnico-científicas proporcionadas pela sociedade contemporânea

 

O sistema capitalista operante incute numa seletividade de competições acirrando qualificação de mão de obra. Esse efeito vem aprimorando desde a era da revolução industrial, uma vertente cuja máxima implica numa divisão radical do trabalho, onde cada um se aprimora em determinada área.

Este modelo cuja trajetória tem origem na segunda década do século XX, com a política de substituição de importações, decorrente das limitações impostas pela I Guerra Mundial, consolidou-se com as políticas de desenvolvimento do Regime Militar, a partir de 1964, ainda e apesar do discurso da integração nacional. (MACIEL, 2009, p. 9).

A sociedade contemporânea vive os efeitos da globalização da economia nos moldes do sistema capitalista de produção e consumo. Exigindo de seus agentes competências cada vez mais consolidadas e aplicadas tanto a ciência quanto à tecnologia.

A Educação sofre os efeitos da globalização e da imposição que essa racionalização vem implicando.

O contexto histórico mostra a educação dos diferentes grupos sociais. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital. (FRIGOTTO, 1999, p.26).

Ao longo dos tempos os rigores da escola fordista desencadearam uma educação bancária e tecnicista, exportada de modelos para atender a demanda principalmente da indústria.

No Brasil após a segunda guerra mundial instala um período de longa crise econômica e necessidades emergentes de crescimento econômico. Nesse contexto um êxodo rural, desenvolvimento do processo de urbanização, crescimento de cidades fortalece o surgimento de mão de obra industrial.

As Transformações técnico-científicas a partir da década de 1930 implicam na educação pós-guerra, políticas voltadas para formações aligeiradas para o mercado de trabalho crescente.

Novos Paradigmas de reprodução do modelo político e ideológico do Estado repercutem na lei 5692 de 1971 (de diretrizes e bases e bases da educação) que estabelece as normas para o ensino de 1º e 2º graus e os cursos profissionalizantes para atuar de forma aligeirada no mercado de trabalho.

  1. Relações de trabalho diretamente relacionadas ao mundo globalizado

Após a ditadura militar no Brasil, percebe-se que a divisão do trabalho como efeitos dos moldes fordistas de produção se mostra inoperante principalmente no contexto da escola.

O trabalho toma-se então alienado, vazio de sentido para o trabalhador, dado que o resultado de sua atividade passa a ser propriedade de outrem, como abordam Teixeira e Souza (1985, p. 66):

Nesse ponto, é bastante oportuna a seguinte citação: “O antigo possuidor de dinheiro marcha adiante como capitalista, segue-o o possuidor da força de trabalho como seu trabalhador, um, cheio de importância, sorriso satisfeito e ávido por negócios; o outro, tímido, contrafeito, como alguém que levou a própria pele ao mercado e agora não tem mais nada a esperar, exceto o – curtume.”! Revela-se aqui todo o significado do fato de a força de trabalho ser transformada em uma mercadoria a mais, no mundo da produção capitalista, em que os produtos do trabalho não mais pertencem a seus produtores, anônimos participantes de um espetáculo no qual entram em cena sem nem mesmo perceber e no qual têm de permanecer independentemente de sua vontade. Sua sobrevivência está agora delimitada por decisões que vão, cada vez mais, afastando-se de seu domínio, às quais, por meios mais ou menos violentos, acabam sendo obrigados a acatar. A “liberdade”, não conquistada senão que imposta, que lhes permite colocar sua força de trabalho à venda, significa a subordinação completa, definitiva, do trabalho ao capital. Este, sim, impondo as regras e condições aos personagens que a ele são atrelados. O conflito é inerente e intransponível. Ingenuidade querer eliminá-lo, mantendo-se intocada as características do cenário em que se insere.

A divisão do trabalho exigiu cada vez mais um maior numero de profissionais segmentários do conhecimento (cada um se especializa numa pequena área).

Dessa forma o trabalho concebeu à escola um modelo fordista para resolver problemas imediatos.

O trabalho baseado, aos moldes de Taylor (1990), realiza-se na organização dos conteúdos em disciplinas com imensa grade curricular, a organização da sala com cadeiras enfileiradas, parece uma fabrica. Onde o aluno está sempre alienado como se fosse um operário dócil e submisso sob a ordem de um professor autoritário além de esforço, mérito e premiações ou punições, a burocratização através de controle de frequência, avaliações internas e externas e documentações.

O fordismo enquanto paradigma técnico científico, é um processo que remonta o século XVI, quando as primeiras disciplinas, ao se descolarem da filosofia, começaram a construir sua própria episteme até o ponto em que se tornaram antagônicas àquela tal como acontece no século XIX.

Nesse caso a Globalização contrapõe a divisão organizacional do trabalho. Intensificam busca por melhor qualificação e aumentam as competições por vagas de emprego em determinadas áreas. Ao mesmo tempo em que cresce o número de desemprego e favelados.

As ações políticas dos governos brasileiros nos primeiros anos do período da chamada república nova se sobressaíram em assistencialismo emergente: programas contra o analfabetismo, programas de combate a fome e principalmente programas para permanência na escola, um incentivo a justificar elevados índices de evasão e repetência nas escolas brasileiras.

A escola reproduz o sistema dominante, como aborda Bourdieu:

Não podendo invocar o direito do sangue – que sua classe historicamente recusou à aristocracia – nem os direitos da natureza, arma outrora dirigida contra a “distinção nobiliárquica”, nem as virtudes ascéticas que permitiam aos empreendedores da primeira geração justificar seu sucesso através de seu mérito, o herdeiro dos privilégios burgueses deve apelar hoje para a certificação escolar que atesta simultaneamente seus dons e seus méritos. A ideia contra a natureza de uma cultura de nascimento supõe e produz a cegueira face às funções da instituição escolar que assegura a rentabilidade do capital e legitima a sua transmissão dissimulando ao mesmo tempo em que preenche essa função. Assim, numa sociedade em que a obtenção dos privilégios sociais depende cada vez mais estreitamente da posse de títulos escolares, a escola tem apenas por função assegurar a sucessão discreta a direitos de burguesia que não poderiam mais se transmitir de uma maneira direta e declarada. Instrumento privilegiado da sociedade burguesa que confere aos privilegiados o privilégio supremo de não aparecer como privilegiados, ela consegue tanto mais facilmente convencer os deserdados que eles devem seu destino escolar e social à sua ausência de dons ou de méritos, quanto em matéria de cultura a absoluta privação de posse exclui a consciência da privação de posse (BOURDIEU, 1982, p. 218).

Os anos 2000-2010 são marcados politicamente por ajustes econômicos e acordos internacionais. As ações políticas se voltam para o ensino superior, ensino profissionalizante e lutas por melhoria no âmbito educacional, sobretudo da qualidade da educação.

  1. Mudanças de paradigmas e o novo educador

Entende-se paradigma como uma racionalidade própria de uma formação socioeconômica. Consiste num conjunto de formas e meios de produção característicos de uma dada revolução tecnológica. (MACIEL, 2000).

Os avanços tecnológicos ocorreram velozmente e ocasionou profundas transformações na sociedade contemporânea.

No entanto a escola, como não é uma fábrica de produção em massa, tem enfrentado desafios frente à essas mudanças. Dessa forma as barreiras da globalização sufocam a escola e a obriga sair da zona de conforto do tradicional modelo educativo quem imperando no contexto educacional.

Segundo FERREIRA (2004, p. 3) o termo “globalização” provoca um agitamento no mundo inteiro, de forma que os problemas sociais, as crises e catástrofes, são relacionados com a “globalização”.

As ações da escola ora remete a reproduzir o sistema, ora repensa seu principal papel de transformação social, e, nessa manobra caminha num viés de mão dupla sempre regida por leis que na pratica a ata de desempenhar seu papel de transformadora e equalizadora.

As políticas públicas, emanadas do Estado, anunciam-se nesse “paradigma” e, mediatizadas por lutas, pressões e conflitos, abrem-se a “possibilidades” para implementar sua “face social”. Nesse contexto de tal gravidade, a gestão da educação, como tomada de decisões, utilização racional de recursos para a realização de determinados fins. (FERREIRA, 2004, p. 5)

Para atuar nesse novo cenário o educador precisa estar num processo de ruptura desses paradigmas e conectado a programas de formação continuada para agir tecnologicamente ao mesmo passo dos avanços da globalização.

Esse é o desafio para a qualidade tanto buscada na educação. A superação de obstáculos que parecem intransponíveis começa pela eficácia da escola no desempenho de sua função.

Por isso, a mudança, a quebra, a ruptura de paradigmas. O confronto de realidade e adaptações ao novo cenário. A escola precisa estar ativa para viver satisfatoriamente esse momento de transformação.

Conclusão 

A escola sempre esteve atrelada a ajustar momentos políticos e sociais, tomando para isso de modelos de reprodução ideológicos.

As transformações técnicas, científicas e tecnológicas que aconteceram gradativamente ao longo dos últimos 50 anos exigiu politicamente que se ajustassem as ações governamentais às demandas por mão de obra, mercado e produção emergentes.

A crise do capitalismo remete a desajustes nas últimas décadas e implementações de políticas neoliberais, as quais ocasionaram desemprego, queda da economia e exclusão social.

A globalização da economia remete a uma nova forma de pensar a educação para esse novo cenário.

A escola não pode simplesmente cruzar os braços ou tapar os olhos. É necessário mudança de atitude. Caso contrário estará sempre remando contra maré, não atingindo seus ideais.

 

Referências Bibliográficas

FERREIRA, Naura Syria Carrapeto. Repensando e ressignificando a gestão democrática da educação na cultura globalizada. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1227-1249, Set./Dez. 2004 Disponível em:< http://www.ceds.unicamp.

FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1999.

MACIEL, Antônio C. Educação integral e sustentabilidade social: alternativa para a educação pública. Anais do I Congresso Educação e Direitos Humanos na Amazônia. Humaitá-AM, agosto, 2009.

MACIEL, A. C. Sistema Cultural como fator de desenvolvimento: caboclos e colonos no interior da Amazônia. UNIR, 2000.

TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. São Paulo: Atlas, 1990.

TEIXEIRA, Déa Lúcia Pimentel & SOUZA, Maria Carolina A.F. de. Organização do processo de trabalho na evolução do capitalismo. Rev. Adm. Empr. Nº25, Vol.4; Rio de Janeiro, out/dez.1985. p.65-72  Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rae/v25n4/v25n4a07.pdf.

SILVA, Márcio José. A Educação e o Paradigma Técnico Científico: as transformações da economia no século XX e as políticas emergentes em educação. Revista Partes, Nov. 2019.

[1] Mestre em Ciências da Educação pela UDS; Especialização em Administração e Gerenciamento Escolar pela UNIR/RO; Especialização em Educação de Jovens e Adultos pela IFMT; Graduação em Matemática pela UNIR/RO.

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