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OS DESAFIOS DO EAD NO ENSINO SUPERIOR EM MEIO A PANDEMIA DA COVID-19

OS DESAFIOS DO EAD NO ENSINO SUPERIOR EM MEIO A PANDEMIA DA COVID-19

Rafael Izidoro Martins Neto*

Aline Chaves Leite**

Ingrid Rezende Silva Palacios***

 

Resumo

Rafael Izidoro Martins Neto; Rafael.izidoro18@hotmail.com; Bacharelado em Administração IFMG campus Bambuí, Pós-Graduação em Docência – IFMG campus Avançado Arcos; Professor de Administração.

O presente estudo objetivou-se analisar o posicionamento dos alunos de cursos superiores do Centro-Oeste mineiro acerca da paralização do ensino presencial causado pela Covid-19 e as dificuldades de estudar em tempo de pandemia. Para isso, foi feito uma pesquisa qualitativa aplicando-se um questionário semiestruturado a amostra estudada. Grande parcela dos respondentes apontou estarem insatisfeitos, vivenciando problemas e transtornos no atual cenário, não apresentando-se preparados para a utilização súbita do Ensino a Distância (EAD).

Palavras-chave: Ensino remoto. Educação. Tecnologia. Aprendizado.

Abstract

The present study aimed to analyze the position of students from higher education courses in the Center-West of Minas Gerais about the standstill of face-to-face education caused by Covid-19 and the difficulties of studying in times of pandemic. For that, a qualitative research was made applying a semi-structured questionnaire to the studied sample. A large part of the respondents indicated that they were dissatisfied, experiencing problems and disorders in the current scenario, not being prepared for the sudden use of Distance Learning (ODL).

Key-words: Remote teaching. Education. Technology. Learning.

 

1 INTRODUÇÃO

Em 31 de dezembro de 2019, surgem os primeiros casos da doença COVID-19 em Wuhan, cidade localizada na província de Hubei, República Popular da China. Ocorrências incessantes de pneumonia que revelaram se tratar de um novo Coronavírus (SARS-CoV-2). O surto ocasionado por esse vírus, passou a ser tratado como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir do dia 11 de março de 2020 em seu relatório de situação nº 51, após a doença ter percorrido 113 países e territórios, deixando 118319 casos confirmados e 4292 mortes em todo o mundo. No próprio relatório, a OMS recomenda três ações básicas para conter a pandemia: isolamento e tratamento dos casos identificados, testes em massa e distanciamento social (OMS,2020).

Para cumprir as recomendações da OMS e impedir a disseminação do vírus pandêmico, as escolas de diversos países do mundo, inclusive do Brasil, tiveram suas aulas suspensas repentinamente, sem perspectiva de retorno presencial. Diante desse cenário, muitas instituições educacionais adotaram o Ensino a Distância (EAD) como ferramenta aliada, possibilitando assim, a transmissão do ensino por meios digitais online e offline.

Aline Chaves Leite (e-mail: alinechavesleite@hotmail.com / Formação: Graduanda em Administração IFMG Bambuí).

O EAD tem como objetivo facilitar a disponibilidade de material para o inscrito e assim como o ensino presencial ofertar qualidade, com a diferença dos reajustes de dias e horários para os estudantes. Com o uso da internet, o ensino a distância se amplia cada vez mais, acompanhando a evolução da tecnologia.

O autor Behar, define o EAD como “aprendizagem organizada, que se caracteriza, basicamente, pela separação física entre professor e alunos e a existência de algum tipo de tecnologia de mediação para estabelecer a interação entre eles” (Behar, 2009, p. 16). Sendo assim, o ensino a distância só é possível quando mediado pela tecnologia para a comunicação.

De acordo com Sousa, Moita e Carvalho (2011), o ensino a distância tem ganhado cada vez mais espaço e tem sido um grande aliado na disseminação do conhecimento e da informação. Afirma ainda, que esse método tem sido eficaz na preparação dos profissionais para o mercado de trabalho.

No entanto Santos (2014), afirma que para conseguir participar do EAD além de ter acesso aos aparelhos digitais é necessário vivenciar a cultura digital. Dessa forma Gatti e outros (2019) defende que a democracia do ensino superior, onde a maioria dos estudantes sofrem com más condições de vida, não pode abster de políticas públicas que procuram amenizar as dificuldades que os estudantes com oportunidades restritas enfrentam para ter acesso à educação.

A modalidade EAD no ensino superior é regulamentada e segue diretrizes pedagógicas, assim como segue um planejamento, previsto no PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), considerado o instrumento de gestão para os Institutos de Ensino Superior – IES (BRASIL, 2015).

No Brasil, o Ministério da Educação (MEC), através da Portaria nº 343, de 17 de março de 2020, permitiu a substituição do ensino presencial pelo ensino a distância enquanto durar a pandemia, como descrito em seu Art. 1º “Autorizar, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação” (BRASIL, 2020).

Ingrid Rezende Silva Palacios (e-mail: ingrid.rezende.palacios0305@gmail.com / Formação: Graduanda em Administração IFMG Bambuí).

Tema que gera polêmica no atual cenário, devido a implementação do EAD de modo súbito, portanto, foi gerado impactos significativos na vida de discentes e docentes. Levando em consideração a abordagem dos autores sobre obter tecnologia, observa-se que muitos alunos não têm condições para acessar os materiais através de aparelhos que necessitam de acesso à internet, outro fator observado é o suporte ao ensino juntamente com a adaptação e treinamento de professores.

Nesta perspectiva, o objetivo do presente artigo foi analisar o posicionamento e percepções apontadas por alunos de cursos superiores na região Centro-Oeste de Minas Gerais acerca da paralisação do ensino causado pela covid-19 e as dificuldades no que se refere a estudar em tempo de pandemia.

2 METODOLOGIA

Para os procedimentos metodológicos, foi feito uma pesquisa de caráter qualitativa, usando uma ferramenta bastante aplicável para o estudo, o questionário semiestruturado, que desenhado para alcançar o espaço amostral da pesquisa e com uma boa aplicação, facilita a coleta de dados acerca do tema proposto.

Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa não se descreve como uma ideia exatamente clara, engessada, mas aponta caminhos para compreensão de fenômenos abordados, podendo expressar a criatividade, a leitura e percepção dos pesquisadores acerca das investigações levantadas. Um estudo qualitativo eleva a condição de percepção do pesquisador, além do que pode ser analisado utilizando apenas dados estatísticos e respostas prontas.

O questionário foi aplicado entre os dias 15 e 25 de junho de 2020 e contou com a participação de 193 alunos. O locus da pesquisa foi a região Centro-Oeste de Minas Gerais e o critério de inclusão e participação dos sujeitos, consistiu em estar matriculado em algum curso superior no ano de 2020. A aplicação ocorreu de forma online utilizando como ferramenta de apoio e criação, o formulário Google Forms da plataforma Gmail. Devido a paralisação das aulas, não foi possível o contato direto com os participantes nas escolas, apenas utilização da tecnologia e apoio de pessoas para a disseminação do conteúdo.

Mesmo em caráter digital, todas as informações necessárias ao preenchimento e participação, foram descritas para cada participante, não deixando lacunas e dúvidas quanto aos conceitos abordados. Foi também informado que a participação era voluntária, não tendo nenhum benefício, tampouco prejuízo na contribuição. Outro fator era a garantia de anonimato aos sujeitos quanto ao preenchimento dos dados coletados.

Para análise e transcrição das informações coletadas, foi adotada outra ferramenta de apoio, a planilha do Excel 2019, onde todas as informações coletadas foram identificadas, separadas e analisas em lotes semelhantes de respostas. Na próxima seção serão apresentados os resultados encontrados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa analisou o posicionamento e percepções apontadas por alunos de cursos superiores na região Centro-Oeste de Minas Gerais acerca da paralisação do ensino causado pela covid-19 e as dificuldades no que se refere a estudar em tempo de pandemia.

Quanto ao perfil dos sujeitos participantes deste estudo, de um total de 193 respostas, 130 pessoas são mulheres, o que representa (67,36%) e 63 são homens, montante de (32,64%). Nenhum participante deixou em branco ou não quis responder à pergunta sobre o gênero.

No que se refere a idade dos participantes, 18 pessoas têm idade até 18 anos, o que representa (9,32%) da amostra, outros 143 (72,59%) alunos têm idade entre 19 e 30 anos. Ainda, 30 alunos (15,54%) marcaram idade entre 31 e 50 anos, e por último, apenas dois alunos marcaram idade acima de 50 anos, o que corresponde a apenas (1,03%) da amostra. Nota-se, assim como na questão anterior, para todas categorias apontadas, o público feminino sobressai com relação aos números masculinos de estudantes engajados no nível superior.

Na questão número três, foi perguntado aos estudantes, se neste período de pandemia, a instituição de ensino na qual eles estão matriculados paralisou suas atividades. Para 125 respostas (64,76%), disseram que sim, todas as atividades educacionais foram interrompidas, e para 68 alunos (35,24%), não paralisou, apenas houve a transcrição do processo de aula presencial para remota, em outras palavras, educação a distância.

Por fim, foi perguntado aos alunos também, acerca de qual seria a sua maior dificuldade com relação ao período de pandemia causada pela covid-19, no que se refere aos estudos, a paralisação ou até mesmo a implementação das aulas remotas.

Para análise e tratamento dessa questão, os autores dividiram as etapas em dois eixos de respostas, as dos alunos que não estão tendo aula, nem outras atividades, e dos estudantes que tiveram a oportunidade de seguir com seus estudos acerca de atividades online, através de seus professores e instituições de ensino com recursos para tais medidas.

No eixo de análise número um, ou seja, alunos que tiveram as aulas suspensas desde o mês de março e até o momento aguardam por medidas de conduta, no que se refere a volta das aulas presenciais, ou até mesmo a possível implantação da educação à distância (EAD) nas escolas, as participações foram pontuais e bem próximas. Grande parte destes alunos se sentem prejudicados e com medo. Dentro das alegações pode-se destacar a possibilidade de não formar no prazo correto do curso, perdas de processo de seleção de pós-graduação, estágios obrigatórios, ingresso no mercado de trabalho, dentre outros apontamentos, sem contar todas as perdas com a volta das aulas de forma intensiva para tentar encaixar um novo calendário. O pânico toma conta principalmente de discentes que enxergavam a formatura como próxima, e a partir de agora, traçam obstáculos no meio do percurso e causam alterações na saúde mental dos estudantes.

O que se percebe, são alunos apavorados, não somente pela condição que a pandemia se instaura no Brasil, mas também a convivência com as incertezas provocadas na educação no ano que se transmite. E mesmo quem tem aulas e ainda segue estudando de alguma maneira nos canais e módulos ofertados, não demonstra tranquilidade, tampouco a sensação que se adaptou por completo a nova rotina. É o que se pode observar no próximo eixo analisado.

Aos alunos que estão a todo vapor, estudando, passando pelo ensino-aprendizagem remota, também, os que representam a minoria de sujeitos desse estudo, em número somente 68 discentes (35,24%) contra 125 (64,76%) da amostra total. Atribui-se uma série de fatores mencionados como ruins e prejudiciais ao ensino que está sendo ofertado no momento. As alegações como internet de baixa velocidade para acompanhar as aulas quando online e ao vivo, a ausência de feedback imediato e prazo para acompanhar assuntos novos inseridos na aula, o prazo de adaptação dos recursos. A questão do núcleo familiar como um fator que não contribui para o processo de aprendizagem.

Outros apontamentos, como a não possibilidade de aulas práticas em cursos que o aspecto fazer e a prática gerada, são essenciais para o desenvolvimento de habilidades. Outro recurso destacado, seria a preparação dos docentes para fornecer qualidade e ferramenta acessíveis as aulas ministradas. Outro relato, se refere as instituições de ensino, destacada pelos alunos, por tomarem decisões ruins ou equivocadas, quanto as práticas pedagógicas, principalmente sem a devida preparação e aperfeiçoamento para o início das aulas remotas. Algo relacionado a questão, está também a não consulta pública aos discentes quanto as práticas adotadas.

Percebe-se que além dos fatores essenciais em comum dos dois eixos avaliados, aos discentes participantes, menciona-se em boa parte das respectivas respostas, sua preocupação com os aspectos da saúde mental e suas dificuldades de encarar os processos e fatos decorrentes atualmente no país, não somente ao que se refere aos seus objetivos educacionais, mas ao modo de sobrevivência, aspectos financeiros e familiares. Observa-se um temor tão grande nos relatos realizados na integra, que manter o foco no ensino remoto torna-se cada vez mais difícil, a começar por vários fatores de ordem, como alunos de baixa renda, munidos da falta de objetos tecnológicos, necessidade de trabalhar, abalos emocionais por conta da pandemia, etc. No próximo tópico, as considerações finais acerca desse estudo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que se refere a todos os dados coletados, analisados e transcritos acima, pôde-se considerar certamente que a pandemia causada pela Covid-19 tem causado diversos transtornos na vida estudantil dos alunos a nível de curso superior na região investigada, elevando cada vez mais o debate sobre a utilização ou não das aulas remotas como substituição da metodologia de ensino presencial para suprir os problemas atuais.

Nota-se uma disparidade enorme de alunos apontando problemas e transtornos com todo o cenário vivenciado. Aqueles que assistem aula, apontam uma vasta problemática em relação aos procedimentos adotados, recursos disponibilizados e pessoas envolvidas. Aos que não foram contemplados com a continuidade do ensino, muita preocupação quanto ao futuro, perdas, reposição do conteúdo não ofertado e associação com a vida particular.

Se considerarmos o posicionamento daqueles que estão totalmente envolvidos, os sujeitos, discentes de diferentes instituições de ensino, pode-se concluir que nenhuma das partes se faz por satisfeito com as condições do ensino, sendo fácil apontarmos diversos aspectos que causam insatisfação e remetem a sensação que nada está caminhando como deveria.

O que se sabe ao certo, é que nesse meio tempo, com toda certeza, discentes, docentes, gestores de ensino, e a sociedade como um todo, passa por problemas de ordem não controlados, onde o pânico se instaura, e a educação e o ensino, estão sendo fatores em escala de prioridade inferiores aos da sobrevivência, devendo-se preservar a saúde mental das pessoas acima de quaisquer interesses educacionais e políticos até a normalização e reestabelecimento da educação.

REFERÊNCIAS

BEHAR, Patricia Alejandra. Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.

BRASIL. Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI. 2004. Disponível em: –http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/pdi_sapiens.pdf. Acesso em: 22 jul. 2020.

BRASIL. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus – COVID-19. Diário Oficial da União. Ministério da Educação, 18 março 2020. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376. Acesso em 06 jul. 2020.

GATTI, Bernardete Angelina et al. Professores do Brasil: novos cenários de formação. Edições Unesco, UNESCO, Brasília, 2019.

GODOY, Arilda Schmidt. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de empresas, p. 20-29, 1995. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rae/v35n3/a04v35n3.pdf .Acesso em: 09 de julho. 2020.

SANTOS, Edméa. Pesquisa-formação na cibercultura. Santo Tirso: White Books, 2014.

SOUSA, Robson Pequeno de; MOITA, Filomena da M. C da S. C.CARVALHO, Ana Beatriz GomesTecnologias digitais na educação. Cidade Eduepb, 2011.

WHO – WORLD HELTH ORGANIZATION. Novel Coronavirus (2019-nCoV) SITUATION REPORT – 51. 10 de março de 2020. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/situation-reports. Acesso em: 06 jul. 2020.

AUTORES:

*Rafael Izidoro Martins Neto (e-mail: Rafael.izidoro18@hotmail.com / Formação: Bacharelado em Administração IFMG Bambuí – Pós-Graduação em Docência IFMG Arcos).

**Aline Chaves Leite (e-mail: alinechavesleite@hotmail.com / Formação: Graduanda em Administração IFMG Bambuí).

***Ingrid Rezende Silva Palacios (e-mail: ingrid.rezende.palacios0305@gmail.com / Formação: Graduanda em Administração IFMG Bambuí).

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