Saúde

Saiba o que é preciso para ter uma gestação tardia com tranquilidade

Por Dra. Camila Varella*

“Tenho mais de 35 anos e quero engravidar. E agora, será que vou conseguir ser mãe?” Às vezes escuto essa indagação em meu consultório. Não se preocupe, você não está sozinha. No século 21, as mulheres estão engravidando mais tarde, uma vez que muitas dedicam a vida à estabilidade e segurança financeira e, então, após se sentirem seguras e consolidadas profissionalmente, tentam pôr em prática a maternidade.

De acordo com as estatísticas mais atuais do Registro Civil de 2019, o número de mulheres que deram à luz entre os 30 e 34 anos aumentou 27,5% na comparação a 2009. Já entre os 35 e os 39 anos, o aumento foi de 63,6%. Entre os 40 e 44 anos de idade, a alta no número de partos foi de 57% e na faixa etária dos 45 aos 49 anos, de 27,2%. Entre as mulheres com mais de 50 anos de idade, a alta foi de 55%. Em contrapartida, o número de mulheres que deram à luz com menos de 15 anos de idade caiu 26,3% nos últimos dez anos.

No entanto, a gravidez tardia tem sido motivo de preocupação, pois na fisiologia da mulher o ápice de fertilidade acontece entre os 20 e 30 anos e, atualmente, muitas vezes a estabilidade financeira acontece após esse período. O que você precisa saber é que existe a possibilidade de se programar para prolongar sua capacidade reprodutiva e garantir uma gestação tardia saudável.

Excluindo-se as causas anatômicas ou algumas condições clínicas preexistentes, o fundamental depende de você: manter um estilo de vida saudável e controlar algumas doenças. Fatores fisiológicos como sobrepeso, falta de atividade física, estresse, insônia, poluição, má alimentação, entre outras situações prejudiciais ao organismo, afetam diretamente a capacidade reprodutiva por piorar a qualidade dos gametas masculinos e femininos e, assim, a qualidade do embrião. E um embirão de menor qualidade reduzem as taxas de sucesso, ou seja, de gravidez.

No caso da mulher, os óvulos começam a envelhecer a partir do nascimento, mas nossa reserva sofre uma queda brupta após a segunda metade dos 30 anos e isso, reduz sua eficiência reprodutiva (reduz não apenas a quantidade de óvulos, mas sua qualidade). É possível conhecer a reserva ovariana através de um exame simples que dosa o hormônio antimülleriano o qual vai apontar se o envelhecimento ovariano está adequado para a idade da mulher, ou se já está mais adiantado. Essa técnica também dá a estimativa se a mulher terá mais tempo para se programar para uma gestação ou se precisará agir rapidamente (devido a possibilidade de uma menopausa precoce). A partir daí, caso ela não entenda ser o momento para uma gravidez, é feito o congelamento dos óvulos para que eles se mantenham na qualidade da idade na qual foram congelados e para serem utilizados no momento favorável.

Embora não exista um protocolo infalível, a maneira mais eficiente de a mulher manter o sonho da maternidade por bastante tempo é promover sua saúde, com foco nos bons hábitos e alimentação saudável, procurando equilíbrio na dieta (que garanta quantidades adequadas de carboidratos, proteínas e gorduras, além de vitaminas, minerais, fitoquímicos e probióticos), além de uma suplementação personalizada. A dieta mediterrânea é considerada a mais eficiente e pode ser adaptada à alimentação brasileira, pois é um padrão alimentar com quantidade e qualidade adequada de carboidratos, maior consumo de gorduras boas (azeite, nozes, peixes – este último consumido com cautela devido a contaminação de metais pesados), equilíbrio nas proteínas, presença de fitoquímicos e antioxidantes, e menos industrializados.

Outra maneira de preservar sua saúde reprodutiva é evitando substâncias que agridem os óvulos, como os xenobióticos. Por exemplo, recomendamos a ingestão de antioxidantes que evitam maiores dados às células e ao seu DNA, como vitaminas A, B, C, alguns minerais e a Coenzima Q10, por exemplo. Lembrando de evitar ingestão excessiva da suplementação, pois pode causar o efeito inverso. O sono saudável também é importante para a saúde e na produção de melatonina, que além de regular nosso ciclo circadiano e proporcionar mais disposição e foco, por exemplo, também favorece a saúde reprodutiva por ser um importante antioxidante.

Portanto, para manter as saúdes física, mental e, por extensão, a reprodutiva é necessário buscar a zona de excelência por meio da construção de atitudes que proporcionam uma vida sadia, pois o óvulo é apenas uma parte de um todo que compõe o corpo em bom funcionamento. Dessa forma, se você está programando uma gravidez tardia, coloque a mão na massa e comece a reavaliar seus hábitos e alimentação, para manter boas condições de saúde e poder realizar seu grande sonho.

*Dra. Camila Varella é nutricionista, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo/USP, pós-graduada em Nutrigenética e Modulação Intestinal. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). Tem formação livre em Personal Coaching, Genõmica Nutricional, Nutrição e Fertilidade, Saúde da Mulher e Nutrição Comportamental. Atua a mais de 20 anos em consultório, sendo também autora de livros, palestrante e experiência na gestão de qualidade de vida em empresas.

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