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“O LIVRO DOS PRAZERES”

Quando resolveu adaptar o romance “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, de Clarice Lispector, a roteirista e diretora Marcela Lordy estava diante do enorme desafio de transpor a prosa da escritora para a tela. Mas havia a alegria de levar para o cinema um dos maiores nomes da literatura latino americana. “O livro mostra que ainda é preciso criar espaços de poder para as mulheres e que este espaço começa dentro da gente. Além disso ele nos convida a repensar a forma como descartamos nossas relações afetivas.“ Com distribuição da Vitrine Filmes, uma produção da bigBonsai e da Cinematográfica MarcelaO LIVRO DOS PRAZERES chega aos cinemas brasileiros junto com a primavera.

Simone Spoladore interpreta a protagonista, Lóri, uma professora fluminense recém chegada no Rio de Janeiro com dificuldade em estabelecer elos afetivos profundos, até conhecer Ulisses (Javier Drolas), um professor de filosofia argentino, com quem viverá um relacionamento intenso.

Mesmo tendo sido publicado há mais de 50 anos, Lordy valoriza a atualidade do romance, um dos mais adorados da bibliografia da escritora que transformou a literatura nacional. “A Clarice coloca a mulher no centro da narrativa, algo raro no país tanto na literatura quanto no cinema da época. O lugar secundário destinado às mulheres já não nos serve mais, estamos ganhando força graças a autoras que contaram com a Clarice abrindo portas. Ela é uma referência fundamental na nossa formação.”.

Algumas adaptações foram necessárias, no sentido de trazer a trama para o presente, sem perder  o espírito da obra original em O LIVRO DOS PRAZERES. “As questões abordadas por ela sobre a posição feminina dentro e fora da gente numa sociedade patriarcal seguem mais fortes do que nunca.. Neste aspecto, a condição da mulher pouco mudou. No entanto, foi preciso amenizar o lado careta do Ulisses e a submissão excessiva da Lóri, que não cabiam mais nos dias de hoje. Deixamos os dois personagens mais livres em relação ao corpo e à própria sexualidade”, revela a diretora.

Nesse sentido, Lordy, que também assina o roteiro com Josefina Trotta, explica que, para adaptar uma narrativa tão introspectiva foi preciso criar novas ações e situações que pudessem compor o longa: “Nos inspiramos na obra dela como um todo e na nossa própria história. Fugimos da voz em off, que seria o caminho mais óbvio, para irmos em direção à ação e a exploração dos sentidos, na construção minuciosa de uma dramaturgia cinematográfica singular. O texto foi outro ponto crucial. Atualizamos tudo, do vocabulário ao conteúdo, sem nos afastarmos da essência do livro.”

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