Adilson Luiz Gonçalves Colunistas Crônicas

CARPE DIEM!

Quem tem ou já teve câncer sabe que uma batalha deve ser travada e vencida a cada dia, o que nem sempre é fácil.  

Isso torna cada dia precioso, que merece ser apreciado em seus mínimos detalhes.  

Os tratamentos cumprem seus objetivos ou, ao menos, tentam, mas a cura ou a sobrevida não dependem exclusivamente deles. É preciso que o ambiente e o espírito sejam parceiros nessa luta, o que nem sempre ocorre.  

Estar de bem com a vida, amar e ser amado, estar em sintonia e paz com Deus e com o próximo são parte fundamental da terapia.  

É certo que os momentos de incerteza se acumulam e podem causar desespero, depressão, desalento. Mas uma boa dose de carinho e principalmente o manter a cabeça ocupada com projetos, livros, filmes e preces é um belo elixir, pois viver em função da doença não é nem nunca foi o melhor remédio.  

O destino é incerto e a única certeza é que não se vence a morte, ela só é adiada. Ser vencido pela expectativa de morte é desperdiçar a vida, que pode ser tão mais longa quanto bem vivida. E conheço vários casos de pessoas que passaram para o plano espiritual por velhice ou outra doença.  

Os tratamentos via quimioterapia e radioterapia, além de novas técnicas que surgem a cada dia, geralmente são agressivos, cheios de efeitos colaterais, alguns estéticos, outros temporariamente incapacitantes. Em alguns casos, as pessoas se sentem constrangidas, evitando sair, conviver, pensando no que os outros vão pensar, medo de comiseração, ignorando o respeito e solidariedade de quem reconhece que uma luta está sendo travada, que não se trata de um vício, embora possa decorrer dele; mas de algo que raramente foi decorrente de uma decisão pessoal, de um desvario inconsequente, mas de uma condição genética ou ambiental sob as quais não se tem controle.  

Daí a orientação médica para que sejam feitos exames preventivos, mesmo sem ter sintomas: os famosos “check ups”, fundamentais para descobrir e tratar anomalias em tempo hábil.  

O problema é que nem todos têm acesso a planos de saúde ou à rede pública. Também há os que não os fazem por ignorância, entendida como desconhecimento; ou por acreditarem que a ignorância é uma “benção”, com medo de “acharem” alguma coisa. Isso prejudica a detecção precoce e a possibilidade de um tratamento com maior chance de bom resultado.  

Há uma frase que diz que: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, atribuída a John Curran. Outra afirma: “Si vis pacem, para bellum” (Se queres paz, prepara-te para a guerra) cujo autor seria Publius Renatus. Elas podem tranquilamente serem adaptadas aos pacientes oncológicos pois, de fato, eles travam uma guerra pela vida, mantendo constante vigilância.  

Os cabelos e pelos que se vão são os ferimentos dessas lutas, mas que podem voltar com o tempo. Isso vale para os dedos inchados, a perda de sensibilidade digital, as erupções cutâneas, as ulcerações, as tonturas, o cansaço, as cirurgias e os remédios que são prescritos para combatê-los no campo de batalha que é o nosso corpo.  

E cada dia é uma vitória!  

A fé é importante! O amor é importante! Mas, de vez em quando, uma boa meia dúzia de palavrões também são bem aceitos, assim como uns “nãos” e polêmicas bem colocados, e manter distância de quem nos faz mal, pois a paciência, seja doente ou são, também tem limites. Serotonina e adrenalina também fazem parte.  

Assim, mesmo com todas as incertezas e imprecisões, o importante é aproveitar cada dia.  

Então, força na peruca ou lustro na careca e “Carpe diem”!  

Adilson Luiz Gonçalves  

Escritor, Engenheiro e Pesquisador Universitário  

Membro da Academia Santista de Letras 

+ 55 13 997723538 

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