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O ENSINO E APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O ENSINO E APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Alini Novak Graniska[1]

Mario Marcos Lopes[2]

Resumo

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido cada vez mais comum no contexto escolar. Quando diagnosticado, vem a difícil tarefa de incluir o aluno portador de TDAH na educação infantil, tendo em vista uma série de empecilhos que fazem parte do processo de ensino e aprendizagem. Diante disso, o objetivo da pesquisa é compreender as implicações na vida da criança portadora de TDAH e os desafios enfrentados pelos professores da turma. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que apresenta o contexto histórico acerca dos primeiros estudos observados, os sintomas, possíveis diagnósticos até o entendimento atual, bem como os desafios no processo de ensino e aprendizagem de alunos acometidos pelo TDAH.  O referencial teórico permitiu compreender que um dos desafios iniciais está no conhecimento acerca do TDAH tanto por parte da família quanto por parte dos professores, e o aluno acometido por esse transtorno acaba sendo taxado como rebelde, com péssimo comportamento, e que atrapalham as aulas – e não recebe o encaminhamento adequado. Conclui-se que na educação infantil, onde as crianças estão em idade pré-escolar e nos primeiros anos do ensino fundamental, é crucial que os professores identifiquem sinais de TDAH e adotem estratégias adequadas para apoiar essas crianças.

Palavras-chave: TDAH. Aprendizagem. Educação Infantil. Práticas Pedagógicas.

1 Introdução

Na Educação Infantil, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido considerado comum – fortalecendo a implementação de políticas inclusivas necessárias para a aquisição de recursos pedagógicos para atender os alunos que apresentam esse transtorno. O objetivo da pesquisa é compreender as implicações na vida da criança portadora de TDAH e os desafios enfrentados pelos professores da turma.

Justifica-se o presente estudo tento em vista que o tema corroborado é de interesse social e também de relevância acadêmica por tratar do impacto na qualidade de vida da criança, como seu desempenho acadêmico, relacionamentos interpessoais, autoestima e bem-estar emocional. Quanto à linha de pesquisa, optou-se pela bibliográfica que apresenta o contexto histórico.

2 Breves considerações acerca do TDAH na Educação Infantil

Conforme exposto por Vygotsky (1978), compreender a evolução e o funcionamento do cérebro é fundamental para o êxito do processo de ensino e aprendizagem, visto que as funções mentais superiores se desenvolvem e são influenciadas por fatores sociais e culturais. Assim, a escola tem um impacto significativo para que a criança aprenda e desenvolva suas habilidades cognitivas.

Segundo Piaget (1967), a inteligência não começa com o conhecimento das interações que ocorrem entre o eu e o mundo externo através de um processo de adaptação, que ocorre através de dois mecanismos: assimilação e acomodação. A assimilação refere-se à incorporação de novas informações ao conhecimento já existente, enquanto a acomodação refere-se à modificação do conhecimento existente para acomodar as novas informações.

Piaget (1967) descreve esse processo de adaptação a partir de estágios sucessivos ao longo do desenvolvimento cognitivo da criança, culminando no estágio das operações formais, onde a criança é capaz de pensar de forma lógica e hipotética.

Em seu livro “Como funciona o cérebro”, Mora (2004) ressalta que a aprendizagem decorre dos acontecimentos que fazem parte do cotidiano de um indivíduo, e esse contato permite a apreensão de novos conhecimentos, que dependem da memória para que sejam conservados ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e memória têm o poder de modificar tanto o cérebro quanto o comportamento do indivíduo que os experimenta porque há formação e fortalecimento de conexões neuronais no cérebro.

Para Scander (2009), o TDAH surge na infância e é uma condição neurobiológica, de causas genéticas. Na maioria dos casos, essa condição faz parte da vida do indivíduo por tempo indeterminado.

Os comportamentos considerados inadequados refletem nas dificuldades para a aquisição de hábitos, nas formas imaturas de brincar, não obedecendo regras, tornando o desempenho limitados, contribuindo para o fracasso escolar e para a interação social (SCANDER, 2009).

De acordo com Silva (2003), a agitação mental do indivíduo com TADH reflete no seu comportamento levando ao fracasso nas relações sociais, e nas tentativas de interagir. A fobia social está associada aos diversos fracassos nessas relações sociais, por temer ser motivo de deboches e até mesmo de desprezo.

A vida familiar da criança com TDAH é afetada, pois o seu cotidiano é marcado por desobediência, dificuldade em seguir as regras, concluir atividades que lhe foram confiadas, comportamentos agressivos e impulsividade (BENCZIK, 2000).

O impacto acaba sendo negativo, as relações sociais acabam sendo comprometidas e a convivência acaba sendo estressante, desgastante para as pessoas que convivem com crianças ou adolescentes com TDAH por faltar essa compreensão (POETA, 2004).

Essas relações marcadas pelo desentendimento e pelos conflitos causam impactos na qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas, levando muitos pais ou responsáveis a quadros depressivos, autoestima baixa, sensação de fracasso e frustração diante da situação das suas habilidades de educar (POETA, 2004).

A Política Nacional de Diretrizes da Educação Especial considera os efeitos do TDAH na vida escolar e social da criança, e por isso atua de forma articulada com o ensino regular para que possa orientar e direcionar as ações do aluno que apresenta esse transtorno funcional específico.

Geralmente os alunos com TDAH têm mais risco de fracasso escolar, maior índices de reprovações, suspensões, menor grau de escolaridade e menor probabilidade de concluir seus estudos (DUPAUL, 2007).

Além das dificuldades encontradas na vida acadêmica, estima-se que 50 a 60% dos alunos com TDAH sofrem alguma rejeição social por parte dos colegas. Essa rejeição acarreta outros problemas como a desistência escolar, o fracasso, aumento e reincidência de infrações, entre outros sentimentos que levam a desmotivação (BARKLEY, 2002).

Muitos são os desafios do indivíduo com TDAH, uma vez que este transtorno altera o modo da pessoa conviver e relacionar-se em sociedade. Mas é no contexto escolar que ele fica ainda mais evidente, afetando diretamente o processo de ensino-aprendizagem.

A desinformação leva aos equívocos relacionados tanto aos métodos utilizados no diagnóstico, como na condução da aprendizagem desses alunos. Torna-se necessário que o professor tenha conhecimento desse transtorno para que saiba diferenciá-lo dos demais acontecimentos em torno da aprendizagem (MATTOS, 2007).

Para Santos (2015), realizar um diagnóstico é importante para buscar as intervenções adequadas ao grau de severidade e à idade. Um profissional competente é quem vai avaliar cada caso de modo particular para prognóstico de desenvolvimento.

Não será suficiente a realização de uma avaliação diagnóstica em sala de aula, mas é importante uma análise de como esse transtorno vem se desenvolvendo ao longo da vida, como a família entende essses sintomas e de que maneira a escola encara essas manifestações da criança (ANDRADE, 2000).

O diagnóstico precoce na Educação Infantil é fundamental, e os pais e a escola precisam ser orientados da necessidade de uma equipe de profissionais como fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e psicopedagogo para que a criança não seja encaminhada diretamente para o tratamento à base de medicamentos (SANTOS, 2015).

O Neuropsicopedagogo juntamente com os demais profissionais do contexto escolar fazem a escuta, e a observação para que possam dar as devovultivas aos alunos (ANDRADE, 2000).

Conforme Fonseca (2014), a Neuropsicopedagogia é uma ciência positiva que contribui com os professores que trabalham com alunos portadores de TDAH, melhorando a relação no espaço da sala de aula.

O profissional neuropsicopedagogo pode aprimorar as metodologias utilizadas com os alunos com a intenção de realizar testes, criar procedimentos que contribuam para facilitar o trabalho com esse tipo de problema. Esse profissional deve orientar os pais, auxiliar os professores para que adotem técnicas que envolvam a ludicidade, brincadeiras que despertem a atenção e o interesse dos alunos com TDAH (HAZIN, 2010).

A abordagem neuropsicopedagógica oferece uma compreensão mais detalhada dos processos cognitivos e emocionais envolvidos na aprendizagem, tornando-se uma ferramenta essencial na identificação e superação das dificuldades de aprendizagem.

Considerações Finais

É visível as implicações do TDAH na vida social, familiar e afetiva da criança, acarretando danos sérios. Perde de ter um encaminhamento e intervenções adequadas, passa a ser vista erroneamente devido ao seu comportamento.

O neuropsicopedagogo pode contribuir a partir das propostas e adaptações metodológicas de ensino para ensinar alunos com TDAH. Os professores devem trabalhar com o aspecto lúdico, presença de jogos e brincadeiras que favoreçam o desenvolvimento do raciocínio e resoluções de situações problemas.

Referências

ANDRADE, E. R. de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola. São Paulo, 2000.

BARCKLEY, R. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Porto Alegre: ARTMED, 2002.

BENCZIK, E. B. P. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade;
– Atualização Diagnóstica e Terapêutica – Um guia para profissionais. 4. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

DUPAL, STONER, G. J. D. G. S. TDAH nas escolas. São Paulo: M. BOOKS, 2007.

FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Revista Psicopedagogia, Portugal. 2014.

HAZIN, I. LEITÃO, S.; GARCIA, D.; LEMOS, C. e GOMES, E. Contribuições da Neuropsicologia de Alexsandr Romanovich Luria para o debate contemporâneo sobre relações mente-cérebro. Artigo da Revista Mnemosine. Vol.6, nº1, p.88-110. UERJ. Rio de Janeiro, 2010.

MATTOS, P. No Mundo da Lua. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DÉFICIT DE ATENÇÃO, 2007.

PIAGET, J. Biologie et connaissance. Paris: Gallimard, 1967.

POETA, L. S.; ROSA NETO, F. Estudo epidemológico dos sintomas do transtorno do déficit de atenção/hperatividade e transtornos de comportamento em escollares da rede pública de Florianópolis usando a EDAH. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo, v. 26, n.3, Set/2004.

SANTOS, F. A. R. dos. Análise da importância da família no desenvolvimento e na aprendizagem da criança com Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Monografia (Especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar). Universidade de Brasília- UnB/UAB, Brasília, 2015.

SCANDER, R. O. Inquietos, distraídos, diferentes? Coleção Educadores. Buenos Aires: Ediba, 2009.

SCHWARTZMAN, J. S. Transtorno de déficit de atenção. São Paulo: Memnon/Mackenzie, 2001.

SILVA, A. B. B. Mentes Inquietas: Entendendo Melhor o Mundo das Pessoas Distraídas, Impulsivas e Hiperativas. 15. ed. São Paulo: Gente, 2003.

VYGOTSKY, L. S. Mind in society: The development of higher psychological processes. Harvard University Press, 1978.


[1] Especialista em Educação Infantil pela Faculdade de Educação São Luís. E-mail: novak6483@gmail.com

[2] Docente do Centro Universitário Barão de Mauá e Faculdade de Educação São Luís; Tutor do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro; Professor na Rede Municipal de Ribeirão Preto/SP

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