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A contação de histórias no Ensino Fundamental: um olhar a partir do Estágio Supervisionado

A contação de histórias no Ensino Fundamental: um olhar a partir do Estágio Supervisionado

 

Fernanda Aparecida Oliveira Silva*

Fernanda Duarte Araújo Silva**

 

Resumo

Fernanda Aparecida Oliveira Silva – Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia

O presente artigo apresenta dados de um trabalho de intervenção desenvolvido em uma escola pública da rede municipal de ensino da cidade de Ituiutaba-MG.  A atividade foi proposta na disciplina de Estágio Supervisionado do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do pontal (FACIP) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).  A intervenção foi realizada com crianças do Ensino Fundamental, após 90 horas de observações. A partir das observações, foi constatado que as crianças têm pouco contato com os livros de literatura e por isso elaborado um plano de aula sobre contação de histórias para ser realizados com os alunos, tendo como objetivo coloca-los em contato com a literatura e mostrar a importância do trabalho com histórias para o processo de alfabetização e letramento, assim como fazer do lúdico um aliado no processo ensino e aprendizagem.

Palavras Chaves: Contação de Histórias, Aprendizagem,. Ensino Fundamental, Estágio.

 

Abstract

The present article presents data of an intervention work developed in a public school of the municipal education network of the city of Ituiutaba-MG. The activity was proposed in the discipline of Supervised Internship of the Pedagogy Course of the Pontal Integrated Sciences Faculty (FACIP) of the Federal University of Uberlândia (UFU). The intervention was carried out with children from Elementary School, after 90 hours of observations. From the observations, it was verified that the children have little contact with the literature books and for that reason a lesson plan on storytelling was elaborated to be carried out with the students, aiming to put them in contact with the literature and to show the importance of working with stories for the process of literacy and literacy, as well as making playful an ally in the teaching and learning process.

Keywords: Storytelling. Learning. Elementary School. Internship.

 

Introdução 

Fernanda Duarte Araújo Silva. Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal. fernandaduarte.facip@gmail.com

O presente artigo apresenta dados de um trabalho de intervenção desenvolvido em uma escola pública da rede municipal de ensino da cidade de Ituiutaba-MG.  A atividade foi proposta na disciplina de Estágio Supervisionado do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do pontal (FACIP) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A intervenção foi desenvolvida com 20 crianças do 2º ano do Ensino Fundamental, após 90 horas de observações, realizadas entre o mês de outubro a novembro de 2016.

A partir das observações, foi constatado que as crianças têm pouco contato com os livros de literatura e que o ensino é focado em atividades técnicas, com uso constante de folhas mimeografadas e da lousa. Foi possível perceber que as atividades desenvolvidas não fazem o uso do lúdico para trabalhar com o processo de alfabetização e letramento e não permitem às crianças utilizarem da criatividade e da imaginação.

Considerando essas afirmações foi elaborado um plano de aula sobre contação de histórias para ser realizado com as crianças, tendo como objetivo coloca-los em contato com a literatura e mostrar a importância do trabalho com histórias para o processo de alfabetização, assim como fazer do lúdico um aliado no processo de ensino e aprendizagem.

 

Porque trabalhar com contação de histórias no Ensino Fundamental?                                  

É evidente que o trabalho com a literatura e mais especificamente com a contação de histórias tem se efetivado com as crianças da Educação Infantil. Quando se volta o olhar para os anos iniciais do Ensino Fundamental verificamos que essa prática tem se perdido no meio de tantas exigências feitas para o processo de alfabetização das crianças, dando a ideia de que o trabalho com a contação de histórias não contribui para tal processo.

Nessa mesma lógica Ramos (2011, p.21) salienta que a prática de narrar histórias é comum na Educação Infantil “onde os alunos ainda não dominam a tecnologia da escrita, apenas são capazes de ler a linguagem oral, imagens, gestos e o que está em seu entorno. Porém, no decorrer da escolarização posterior, essa prática raramente ocorre e deixa a desejar.”

Mas, diferentemente do que se possa pensar, trabalhar com a contação de história nos anos iniciais do Ensino Fundamental é uma estratégia que contribui para a alfabetização das crianças, como salienta Souza e Bernardino (2011, p. 238):

A escuta de histórias, pela criança, favorece a narração e processos de alfabetização e letramento: habilidades metacognitivas, consciência metalinguística e desenvolvimento de comportamentos alfabetizados e meta-alfabetizados, competências referentes ao saber explicar, descrever, atribuir nomes e utilizar verbos cognitivos (penso, acho, imagino, etc.), habilidades de reconhecimento de letras, relação entre fonema e grafema, construção textual, conhecimentos sintáticos, semânticos e ampliação do léxico.

Nessa perspectiva o professor pode a partir da narração de história, utilizar de várias estratégias pedagógicas para desenvolver atividades que relacionam-se com a alfabetização e letramento das crianças, tornando os exercícios propostos mais prazerosos e significativos.

É importante salientar que ao trabalhar com histórias na sala de aula, o docente deve estar ciente que precisa fazer uma boa escolha do que vai ser trabalhado, pois as histórias precisam estar de acordo com a faixa etária das crianças, assim como despertar o interesse delas. Outra coisa fundamental é trabalhar com os diversos tipos de histórias para desde cedo a criança aprender as diferenças entre elas. Como salienta os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1997. p. 27-28):

A conquista da escrita alfabética não garante ao aluno a possibilidade de compreender e produzir textos em linguagem escrita. Essa aprendizagem exige um trabalho pedagógico sistemático. Quando são lidas histórias ou notícias de jornal para crianças que ainda não sabem ler e escrever convencionalmente, ensina-se a elas como são organizados, na escrita, estes dois gêneros: desde o vocabulário adequado a cada um, até os recursos coesivos que lhes são característicos. Um aluno que produz um texto, ditando-o para que outro escreva, produz um texto escrito, isto é, um texto cuja forma é escrita ainda que a via seja oral. Como o autor grego, o produtor do texto é aquele que cria o discurso, independentemente de grafá-lo ou não. Essa diferenciação é que torna possível uma pedagogia de transmissão oral para ensinar a linguagem que se usa para escrever.

Além disso, trabalhar com essa prática nos anos iniciais do Ensino Fundamental permite inserir as crianças no mundo da leitura, abrindo possibilidades para que ela desenvolva a sua capacidade de interpretação, assim como a linguagem oral e escrita.

Ao escutar histórias o aluno se torna autor do que está ouvindo, pois imagina, cria e recria os fatos narrados e isso contribui para o desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança.

Silva (2011, p. 22) destaca que:

A importância de contar histórias foi ressaltada quando se percebeu que era uma forma de transmitir a emoção da literatura. Ainda que o aluno viesse a sentir emoção ao fazer a leitura, quando a história é contada ele pode atentar aos detalhes que passariam despercebidos na leitura própria e, desenvolveria, ao mesmo tempo, naqueles que ainda não sabem ler, o mesmo sentimento de emoção, além de transmitir o que ainda não podem obter sozinhos, despertando a vontade de se apropriar da leitura.

Assim a história contada por outra pessoa encanta a criança, na medida que a faz “entrar” em um mundo do faz de conta, despertando sentimento e emoções. Isso contribui para a formação humana, ética, política e cultural, além de incentivar a leitura com as crianças.

Silva (2011) ressalta que ouvir histórias contribui para que a criança tenha a noção dos valores que estão presentes na sociedade, como o respeito, caridade, preservação entre outros, além de ser fundamental para a formação cultural.

Esses fatores impactam diretamente na aprendizagem, pois quanto maior for o interesse pela leitura, a criança se tornará alguém com mais habilidades para escrever e ler assiduamente, o que abre possibilidades para que ela vá desenvolvendo seu senso crítico.

É indispensável frisar que ao trabalhar com a contação de histórias o professor precisa tomar cuidado para não fazer dessa prática algo puramente técnico, no qual prioriza-se apenas fins avaliativos. É preciso despertar no aluno o prazer da leitura, pois como nos lembra Souza e Bernardino (2011) a contação de histórias deve ser uma experiência positiva do aluno com a leitura e não uma tarefa rotineira escolar que afaste o aluno do prazer de ler e transforma a leitura e literatura em instrumentos para as provas.

Portanto a contação de histórias vem a ser uma estratégia pedagogia que auxilia no processo de ensino e de aprendizagem e favorece o aspecto psíquico e cognitivo das crianças.

 

Da teoria à prática: A contação de histórias no Ensino fundamental  

A intervenção foi realizada no segundo semestre de 2016, em uma sala de Ensino Fundamental, com crianças do segundo ano.  As observações feitas colaboraram para a escolha da atividade, pois por meio delas foi possível delimitar o que seria interessante e necessário para trabalhar com as crianças, a partir disso escolhemos desenvolver uma atividade sobre contação de histórias.

O primeiro passo realizado foi pensar na escolha da história a ser trabalhada, que deve ser de acordo com a faixa etária das crianças, então foi escolhido o livro “A Fera Solitária” de Chris Judge. “Ao escolher a história o contador deve levar em consideração o seu público alvo, para quem conta, onde conta e o que conta. A preparação da história começa com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto, pela leitura do dito e não dito do texto.” (RAMOS, 2011, p. 38). Foi feita uma leitura prévia, antes da história ser contada para as crianças, já que “ler a história antes de contá-la as crianças é um cuidado do contador para averiguar do que trata se é engraçada, triste, séria e qual a entonação que usará.” (SOUZA, BERNARDINO, 2011, p. 246)

A intervenção ocorreu no início da aula do matutino, mas antes de iniciar a atividade foi feita a organização da sala de aula, assim as crianças sentaram em círculos e posteriormente foi explicada a atividade para elas.

Primeiramente, perguntamos se as crianças gostavam de histórias, todos disseram que sim; perguntamos também se elas já tinham ouvido a história que iria ser contada, uma aluna falou que já sabia da história. Após isso iniciamos a contação da história, as crianças se mostraram empolgadas e muitas vezes, no meio da narração, elas começavam a fazer comentários entre elas sobre o que estavam ouvindo. Em alguns momentos pediam para repetir a leitura porque não tinham entendido, pediam para ver as imagens do livro, por isso no decorrer da história era feita uma mediação constante do que estava sendo lido para a compreensão delas.

A narrativa da história infantil tem uma estrutura que traz uma expectativa ao receptor, cria condições que dá sentido aos fatos, pois quando a criança ainda não sabe ler ou está no aprendizado desta habilidade ainda não é capaz de unir as duas práticas ao mesmo tempo, ou seja, não consegue decifrar os códigos da leitura e entender a história ao mesmo tempo. Por isso, é necessária a mediação do professor no momento da contação da história, e se esta for contada de forma a despertar o interesse do aluno, também estará desenvolvendo sua aprendizagem. (SILVA, 2011, p. 28).

Posteriormente, no final da leitura do livro, foi feito um suspense sobre o que tinha acontecido com a “Fera” e o final da história não foi lido, pois pensamos em aliar a pratica da contação de história com o processo de alfabetização e letramento e assim foi pedido para que as crianças criassem o final da história, ou seja, elas deveriam escrever o que havia acontecido com a “Fera”.

Nesse momento as crianças ficaram um pouco pasmas, e disseram que não sabiam fazer, que não davam conta, então foi explicado que elas iriam escrever do jeito que sabiam, sem se preocuparem se estava acerto ou errado, a partir disso algumas começaram a escrever, e não demonstrava dificuldades, outras pediam ajuda e nós estimulava elas a pensar sobre o que seria interessante escrever. Algumas escreviam apenas uma frase curta como “A fera foi embora”, mas nós indagávamos “e depois disso o que mais aconteceu?”, “Escreve mais alguma coisa, como: para onde ela foi embora? Onde ela foi morar, na praia? na floresta?”, ou seja, a todo momento tentávamos estimular as crianças a usar a criatividade e imaginação para desenvolver a escrita.

Compreendendo a intervenção realizada e a importância dessa pratica pedagógica concordamos com Silva e Bernardino (2011, p. 237) que:

A contação de histórias é uma estratégica pedagógica que pode favorecer de maneira significativa a prática docente na educação infantil e ensino fundamental. A escuta de histórias estimula a imaginação, educa, instrui, desenvolve habilidades cognitivas, dinamiza o processo de leitura e escrita, além de ser uma atividade interativa que potencializa a linguagem infantil.

Após a concretização da atividade, foi pedido para as que as crianças socializassem o que havia escrito para os colegas. Cada uma fez a leitura do final que criou para a história. Esse momento foi muito importante para oportunizar as crianças a oportunidade de ler, de saber ouvir e prestar a atenção no colega, além fez com que elas se sentissem valorizadas por sua produção, estimulando o gosto pela leitura e escrita.

Compreendendo a ludicidade como princípio fundamental para a aprendizagem das crianças e para tonar a atividade mais prazerosa, partimos para a última etapa, na qual as crianças foram divididas em grupos, para pintarem a parte da história que mais havia gostado.

 Esse momento possibilitou as crianças utilizarem da imaginação e criatividade e propiciou a socialização entre elas. Algumas crianças chegaram a fazer mais de uma pintura, já outras demoram todo o horário para terminar.

 

Considerações Finais  

O trabalho com contação de histórias é uma estratégia pedagógica que também deve ser concebida pelos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, já ela contribui para o ensino e aprendizagem das crianças.

Assim, por meio da vivência do estágio supervisionado, percebemos que existe a necessidade dos professores englobar em suas aulas essa prática pedagógica, que contextualizada com outras atividades pode favorecer o processo de alfabetização e letramento das crianças.

Por meio dessa intervenção foi possível verificar a relevância da narração de histórias no ensino da leitura e escrita, sendo uma maneira dinâmica e didática do docente modificar suas aulas tomando-as mais interessantes para os alunos e para coloca-los em contato com a leitura estimulando eles a escreverem, mesmo que ainda não estejam na fase alfabética da escrita.

A partir dessa intervenção, concluímos que o professor pode fazer uso de diferentes estratégias para trabalhar com contação de histórias, pode usar fantoches, fazer teatro com as crianças, pedir para elas serem as contadoras de histórias, criar um livro junto delas para que depois possa ser lido para a turma, entre outras. Percebemos que existe várias maneiras para fazer o uso dessa prática, que precisa ser encarada como algo que contribuí para o aprendizado, além de ampliar o repertório cultural das crianças.

 

Referências

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. 1997. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf > Acesso em 30 de nov. de 2016.

RAMOS, Ana Cláudia. Contação de histórias um caminho para a formação de leitores? 2011. Disponível em: <http://www.uel.br/pos/mestredu/images/stories/downloads/dissertacoes/2011/2011_-_RAMOS_Ana_Claudia.pdf> Acesso em 30 de nov. de 2016

SOUZA, Linete Oliveira de Souza.; BERNARDINO, Andreza Dalla. A contação de história como estratégia pedagógica na educação infantil e ensino fundamental. 2011. Educere et Educare Revista de Educação. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/4643/4891> Acesso em30 de nov. de 2016.

SILVA, Ivone Ribeiro da. A contação de história e sua contribuição para o processo de ensino e aprendizagem. 2011.  Disponível em: <http://www.dfe.uem.br/TCC/Trabalhos%202011/Turma%2031/Ivone_Silva.pdf> Acesso em 30 de nov. de 2016.

 

*Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia.

**Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal.

 

Como citar esse artigo:

SILVA, Fernanda Aparecida Oliveira. SILVA, Fernanda Duarte Araújo. MENEZES, Nívia Ferreira da Silva. SILVA, Fernanda Duarte Araújo. A contação de histórias no Ensino Fundamental: um olhar a partir do Estágio Supervisionado. Revista Partes, São Paulo, 2018. p.1-7.

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