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Possibilidades na Organização dos Espaços na Educação Infantil: Uma Experiência no Estágio Supervisionado

 

Possibilidades na Organização dos Espaços na Educação Infantil: Uma Experiência no Estágio Supervisionado

Nívia Ferreira da Silva Menezes*

Fernanda Duarte Araújo Silva**

 

Resumo

Nívia Ferreira da Silva Menezes – Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação (FACED/UFU).

O presente artigo apresenta uma pesquisa realizada no curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integral do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) e aborda questões referentes à utilização e organização espacial em uma instituição de Educação Infantil da cidade de Ituiutaba-MG, na qual desenvolvemos o estágio supervisionado. Como achado primário diante dos resultados das observações, explicitou-se a não utilização dos referidos espaços de forma que instigue o processo criativo, a liberdade de expressão seja, física, emocional, intelectual e psicológica, por meio de um espaço pensado para a criança a partir de suas interações com meio.

Palavras – chave: Estágio Supervisionado. Educação Infantil. Organização Espacial. Educação.

Abstract

The present article presents a research carried out in the Pedagogy course of the Faculty of Integral Sciences of Pontal of the Federal University of Uberlândia (FACIP / UFU) and addresses questions regarding the use and spatial organization in an institution of Early Childhood Education in the city of Ituiutaba-Mg, in which we develop the supervised stage. As a primary finding in view of the results of the observations, it was made explicit that the spaces are not used in a way that instigates the creative process, freedom of expression is physical, emotional, intellectual and psychological, through a space designed for the child to their interactions with media.

 

Keywords: Supervised Internship. Child education. Space Organization. Education.

 

INTRODUÇÃO

O espaço existente na instituição pesquisada–dialogando com os autores.

Fernanda Duarte Araújo Silva – Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma atividade de intervenção desenvolvida durante a disciplina de Estágio Supervisionado em Educação Infantil do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A escola de Educação Infantil pesquisada atendia crianças na faixa etária de até cinco anos, em tempo integral e atendia 130 crianças de acordo coma idade, sendo no berçário (8 meses a 1 ano e 11 meses), no maternal (dois e três anos), Jardim um (4 anos) e Jardim dois (5 anos).

A instituição possuía um espaço amplo, pátios grandes, refeitório/cozinha, salas de aulas grandes bem ventiladas, todas com ar condicionado e ventiladores, berçário espaçoso, sala de vídeo, banheiros com chuveiros e lavatório para higiene na altura das crianças; lavanderia, horta, área verde com um parque infantil. Identificamos que a instituição possuía uma variedade de brinquedos, balanços, túnel de manilha cimento, gangorra, gira-gira, escorregador, duas piscinas e para finalizar, possuem alguns brinquedos de plásticos que simula um castelo (quando utilizado, as crianças descem, sobem, escorregam).

Diante das observações, percebemos que estrutura física da escola era bastante ampla para o atendimento às necessidades básicas escolares, mas somente no sentido de acomodação nos referidos espaços. Questionamos então: Será que esses espaços são utilizados de forma que atenda as crianças adequadamente? E a arquitetura do prédio? Os espaços são pensados pedagogicamente para os pequenos? Permitem interações que contribuam para o desenvolvimento integral?

Para nos elucidar diante destes questionamentos, veremos o que nos diz os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil, Brasil, (2009) quando contemplavam que os ambientes físicos das instituições de Educação Infantil devem:

(…) refletir uma concepção de educação e cuidado respeitosa das necessidades de desenvolvimento das crianças, em todos seus aspectos: físico, afetivo, cognitivo, criativo. Espaços internos limpos, bem iluminados e arejados, com visão ampla do exterior, seguros e aconchegantes, revelam a importância conferida às múltiplas necessidades das crianças e dos adultos que com elas trabalham; espaços externos bem cuidados, com jardim e áreas para brincadeiras e jogos, indicam a atenção ao contato com a natureza e à necessidade das crianças de correr, pular, jogar bola, brincar com areia e água, entre outras atividades (BRASIL, 2009, p.50).

Perante o que propõe os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil em consonância ao pensamento de Moura (2009, p.142), entendemos que não está sendo defendido que o espaço por si só promova o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, mas deve permitir a sua exploração e manipulação delineando uma organização com vistas ao desenvolvimento e aprendizagem adequados aos sistemas simbólicos culturais.

Pois é justamente na Educação Infantil que a criança mais interage com o meio a que está inserida. O faz de conta e a imitação, é conduzida por elas de forma natural e o brincar aparece como instrumento constitutivo da personalidade por meio das brincadeiras e relações com outras crianças, havendo assim, uma troca riquíssima para a construção do conhecimento reforçando os saberes trazidos previamente. Daí a necessidade de um espaço desafiador, em que a qualidade da interação cresce, desembocando para o desenvolvimento das habilidades que direcionem para o ser completo (MOURA 2008).

No entanto, na escola pesquisada o que percebemos são paredes cinza, corredores muito limpos, mas sem vida; sala de vídeo ampla, mas que se parece com uma sala de convenção; parque bem estruturado, mas não utilizado, pátios grandes em que as crianças não transitam; salas de aulas bem ventiladas, mas repletas de carteiras enfileiradas sugerindo um ensino tradicional caracterizado pela reprodução dos conteúdos curriculares; berçários espaçosos, mas repletos de berços e sem nenhum atrativo que chame a atenção dos pequenos; banheiros com chuveiros e lavatório para higiene, mas não é utilizado como um espaço educativo.

Assim, percebemos o papel determinante da gestão em relação à utilização dos espaços em uma instituição de Educação Infantil, uma vez que a concepção formulada que se tem do que é ser criança, implicaria diretamente para o seu desenvolvimento integral, se a mesma estivesse em conformidade ao que contempla o seu próprio Projeto Político Pedagógico (PPP):

Foram extraídas as afirmações de que a ideia de infância apresenta-se de forma heterogênea no interior de uma mesma sociedade e em diferentes épocas. A criança sendo sujeito único em pleno e constante desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e emocional, possui uma natureza singular que a caracteriza como ser que sente, pensa o mundo de um jeito muito próprio, o jeito da infância. (PPP, 2014)

Desse modo, há um descompasso em entender a criança como sujeito único que se desenvolve por inteiro, pois seria importante no mínimo um espaço adequado para suas interações, que implicasse na promoção de independência como via de construção da sua própria noção espacial, seja pelo desenvolvimento da sua criatividade, da estruturação lógica e, ainda, como um fomentador da cultura.

Detectamos em nossas observações uma instituição cujo principal objetivo é a realização do trabalho social, em que o cuidar é mais importante do que o educar. Fator este que deveria ser interpretado e levado em consideração de forma equilibrada devido à importância das duas vertentes que direciona para uma educação de qualidade.

Sabemos que as creches carregam em sua história marcas de um trabalho assistencial, voltado ao atendimento das crianças vindas de famílias pobres e trabalhadoras, um trabalho compensatório, pois visava proporcionar à criança tudo que havia lhe faltado no lar, falta de amor, de estímulos, de necessidades básicas, etc., mas esse paradigma assistencialista deve ser quebrado, substituindo-o pelo binômio cuidar/educar de forma plena e complementar.

Entretanto, o dia a dia das instituições de Educação Infantil está repleto de atividades organizadas por educa­dores que, de uma maneira ou de outra, lidam com o espaço e o tempo a todo o momento, levando em conta o objetivo de proporcionar o desenvolvimento das crianças (BARBOSA; HORN, 2001).

Outro fator importante que merece ser ressaltado em nossas observações é à disposição dos objetos, mobiliários e moveis no berçário da creche pesquisada, uma vez que definitivamente não atende ao que referencia alguns educadores e pesquisadores quando enfatizam que “Os espaços e objetos de uma creche devem estar a favor do desenvolvimento sadio dos bebês, propiciando-lhes experiências novas e diversificadas” (ROSSETTI-FERREIRA, 2007, p. 149).

É de suma importância à organização do espaço para convivência e interação das crianças pequenas, de modo que a arrumação do berçário seja condizente com as necessidades das crianças nessa faixa etária. A utilização de berços ocupando quase todo o espaço disponível tira a liberdade, o campo de visão e a possibilidade de interação desde o chão até as paredes e teto.

Nesse sentido, Rossetti-Ferreira (2007) corrobora o pensamento sobre o espaço levando em conta três partes da sala: o chão, o teto e as paredes. Em cada uma dessas par­tes, enxergam-se possibilidades de garantir experiências interessantes e desafios para as crianças, por meio do uso de divisórias de diversos tamanhos e em diversas alturas, caixas de papelão recortadas e transformadas, brinquedos, canaletas para os bebês passarem por den­tro, muretas para impedi-los de seguir em frente e obrigá-los a experimentar outros trajetos, cortinas, espelhos, móbiles etc.

O espaço utilizado no berçário deve ser rico e que estimulem a curiosidade dos bebês, com disposição de objetos, estruturas, texturas, mesas, prateleiras de plástico colorido com gavetas, balcão baixo formando uma divisória, colchonetes, painel com gravuras de animais conhecidos, poltroninhas ou almofadas em frente a um espelho com intenção da busca da própria identidade por meio das variadas situações de estímulos ocasionadas na interação com os pares.

Para tanto, torna-se imprescindível a utilização das chamadas zonas circunscritas, que podem ser utilizadas desde o berçário aos segmentos subsequentes. A característica principal das zonas circunscritas é seu fechamento em pelo menos três lados sejam qual for o material que o educador coloca lá dentro, ou que as próprias crianças levam para brincar. Dessa maneira, delimitam-se essas áreas usando mesinhas ou cadeirinhas. Elas tam­bém podem ser constituídas por caixotes de madeira ou cabaninhas, desde que contenham aberturas. É importante que a criança possa ver facilmente a educadora, senão ela não permanecerá muito tempo dentro dessas áreas circunscritas.

No entanto, o fator primordial para que as zonas circunscritas funcionem é a intencionalidade, pois em alguns casos o educador apenas delimita o espaço, não atendendo a organização fundamentada em uma concepção de criança que a sustente, assim volta ao formato anterior tendo o professor como centro das atenções e a criança um ser passivo para a construção do conhecimento (ROSSETTI-FERREIRA et al., 2007).

Entendemos a importância da intencionalidade ao utiliza-se dos espaços nas escolas desde o berçário à pré-escola, por permitir o desenvolvimento pleno das crianças pequenas nessas faixas etárias. Suas contribuições são como pano de fundo à eterna parceria com o brincar, o lúdico e as capacidades afetivas, construídas nesses espaços.

Assim, entende-se que o brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la. É através do brincar que a criança forma conceitos, seleciona ideias, percepções e se socializa cada vez mais. O brincar é uma atividade que auxilia na formação, socialização, desenvolvendo habilidades psicomotoras, sociais, afetivas, cognitivas e emocionais. Ao brincar as crianças expõem seus sentimentos, aprendem, constroem, exploram, pensam, sentem, reinventam e se movimentam.

Entretanto, no ambiente da instituição pesquisada, que seria o espaço propício para essas interações de vivências e motivações lúdicas, isso não acontece, uma vez que evidenciamos uma concepção de educação tradicional, autoritária e de reprodução, fator este que muito nos entristece devido às incontáveis possibilidades apontadas pela literatura específica e os avanços obtidos no que concerne aos direitos constitucionais em favor da criança, funcionando como indicadores para a transformação das concepções de educação obsoletas e desatualizadas.

 

Considerações

Identificamos por meio do trabalho desenvolvido durante o Estágio Supervisionado a importância da utilização e distribuição dos espaços nas escolas de forma integral, ou seja, de modo que abranja todas as faixas etárias concernentes à Educação Infantil, por permitir o desenvolvimento que auxilia na formação, socialização, desenvolvendo habilidades psicomotoras, sociais, afetivas, cognitivas e emocionais.

Avaliamos a experiência que obtivemos durante a realização desse Estágio na Educação Infantil como um fator positivo e de suma importância para a nossa formação docente, pois por meio dele tivemos a oportunidade de compreender os meandros intrínsecos que permeiam a dinâmica de uma escola de Educação Infantil em seu cotidiano e a relação do binômio cuidar/educar com a prática pedagógica adotada pela instituição.

Nesse sentido, ficou claro que a prática adotada está relacionada a um contexto histórico concernente à função social e tradicional que a filantropia exerce nos dias atuais em uma creche que é o caso específico deste relato. No entanto, não nos priva de propor projetos, sejam estes transitórios ou permanentes que visem o desenvolvimento infantil como primazia e com um olhar voltado para os avanços antropológicos, culturais e sociais que permeiam nossas práticas.

Referências

BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: CRAIDY, C.;

BRASIL/MEC/SEB. Indicadores de qualidade na Educação Infantil. Brasília, MEC/SEB, 2009.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Referencial curricular nacional para a educação infantil: formação pessoal e social. Brasília: MEC/SEF, v.01 e 02.1998. 85p.

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MOURA, M. C. (2009). Organização do espaço no contexto da educação infantil de qualidade. Revista Travessias, 3(3), 140-158. Mourão, A. R. T. & Cavalcante, S. (2006).

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*Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação (FACED/UFU).

**Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal.

Como citar esse artigo:

MENEZES, Nívia Ferreira da Silva. SILVA, Fernanda Duarte Araújo. Possibilidades na Organização dos Espaços na Educação Infantil: Uma Experiência no Estágio Supervisionado. Revista Partes, São Paulo, 2018. p.1-6.

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