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MAJOR OLIMPIO, O GUARDIÃO DA CLASSE POLICIAL

Nair Lúcia de Britto

Recentemente o Brasil perdeu um grande líder: o Senador da República, Sérgio Olímpio Gomes, mais conhecido como Major Olímpio. Um político honesto, de pulso firme e batalhador. Seu temperamento arrojado fazia com que, às vezes perdesse as estribeiras. Não tinha medo de dizer o que pensava e nem de falar a verdade. Seus ideais eram  em pró da justiça e do povo brasileiro.

Seu empenho em querer limpar a Política brasileira e a vontade férrea de trabalhar pelo nosso país é um exemplo que deve ser seguido pelos futuros talentos voltados para a Política. “O princípio fundamental que um cidadão honesto deve ter é dizer sempre a verdade”, foi o que sempre disse.

Numa entrevista realizada por Rafi Bastos (Mais que 008 Minutos), vídeo publicado em 30.05.2019, o Senador Major Olímpio falou sobre si e sua carreira. Nasceu em Presidente Venceslau/SP, e com apenas quinze anos de idade entrou para Academia de Polícia, em Barro Branco. Enquanto seus amigos namoravam as “menininhas”, o que é normal na adolescência, Major Olímpio já se preocupava em defender a nossa Pátria.

Depois de se formar militar, estudou Jornalismo, Ciências Sociais e percorreu outros países para conhecer as medidas de Segurança, de cada um deles. Mas acabou entrando para a Política, como ele mesmo disse, por um “acidente de Percurso”. Como assim? Ele explica.

Na sua atuação como Comandante em bairros como Capão Redondo, Jardim Luiz, Jardim Ângela, ele era um policial contestador. Reclamava da falta de estrutura na área da Segurança Pública e da ausência de condições mínimas para o serviço dos policiais. Ou seja: um salário digno, equipamentos necessários para trabalhar; e um apoio estrutural, psicológico e jurídico.

“O salário horrível de um policial os obriga a fazer um ‘bico’ para complementar a renda. Moram numa sub-habitação, em cortiços, favelas. Lavam os uniformes dentro de casa, escondido, para não serem alvos de inimigos; muitas vezes seus vizinhos.”

“No Brasil, a Polícia não trabalha por causa de governo, é apesar de governo.”, desabafa. Depois, dirigindo-se à população, diz: “Olha, quando encontrarem um policial na rua, cumprimenta, diz bom-dia. O policial dá a vida por vocês. E dá mesmo!” Por causa do uso de um colete ineficente um amigo dele, o soldado Lamas, morreu com um tiro de fuzil. O colete ficou todo esgarçado. Era um policial amigo de todos e tinha o apelido de “parteiro”, de tantos partos que já tinha feito.

“Ser policial é uma profissão muito dura! São pessoas vocacionadas para exercer esse trabalho. Desgastante não só fisicamente, como espiritualmente, psicologicamente.  Viver sob a ameaça de morte constante de criminosos é muito estressante. Ver seus colegas morrendo a serviço da população e, depois, dar a triste notícia à família é muito doloroso.” Ele próprio teve essa amarga experiência.

Também é bastante doloroso aos bons policiais receberem críticas por erros cometidos pelos maus policiais; e a população generalizar  a má conduta, responsabilizando a todos. “No entanto, são os bons policiais que prendem os maus policiais. Não é mais ninguém!”, enfatiza.

Nos Estados Unidos a Segurança Pública é bem organizada, a Lei é mais rigorosa, o cidadão se sente mais bem protegido. Mas o Major reconhece que os policiais brasileiros se superam aos americanos. Lá nos EUA quando, numa emergência, um policial faz um parto, isso é uma raridade. As pessoas aplaudem, ficam surpreendidas.

Aqui, no Brasil, os policiais fazem cerca de cem partos por ano, porque o sistema de saúde não dá conta. A ambulância do pobre ainda é a Rádio Patrulha. Diante dessa observação, do Major, fiquei pensando: Quantas vezes um policial não salva uma criança de um acidente doméstico; um animal se afogando; e até recém-nascidos atirados ao lixo. Ou não é solidário, quando se depara com alguém em desespero? São múltiplas ações de heroísmo, que caem logo no esquecimento.

A população não imagina, o Major pondera, quão difícil é para o policial cumprir uma ordem de desintegração de terra, que vem de um juiz. Ver crianças chorando, idosos aflitos; pessoas honestas, que trabalham, e não sabem  para onde ir… A impressão que dá é que são os policiais os culpados. Mas a verdade é que eles fazem esse trabalho com um aperto no coração e  os olhos lacrimejantes.         

As melhores condições de trabalho para os policiais, as quais o Major Olímpio reivindicava, junto às autoridades constituintes, cobrando por soluções, motivou algumas punições: por falar e reclamar demais.

Estava sempre sendo transferido. Ele morava na zona norte e era transferido para bairros cada vez mais distantes. Até que foi transferido para Bragança Paulista, onde foi Capitão. Bons tempos que o Major recorda com alegria, mas as reivindicações continuaram. Como ele não parasse de reclamar, amigos e familiares sugeriram ao Major que entrasse para a Política, para concretizar seus objetivos.

Ele gostou da idéia e foi assim que, em 2006, candidatou-se como Deputado Estadual, pelo partido Verde. Ganhou prestígio defendendo melhores salários para os policiais. Em 2014 elegeu-se deputado federal pelo Solidariedade. Quatro anos depois mudou para o PSL e elegeu-se como Senador por São Paulo, com mais de 4 milhões de votos (o terceiro candidato mais votado).

Começou amigo da presidência, mas com a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, a CPI das “rachadinhas” e o grande número de mortes na Amazônia, por falta de oxigênio, Major Olímpio, decepcionado, rompeu as relações de amizade.

Antes de encerrar a entrevista, o Major Olímpio ainda opinou sobre a questão da legalização das drogas, dizendo: “Nós não podemos compactuar com o comércio da morte”. Sobre a questão do aborto, declarou-se cristão e,  portanto, a favor da vida.

“Meu herói na vida: meu pai, que era Agente Penitenciário. Meu herói na História: Duque de Caxias, declarou o Major no Programa Roda Viva, da tevê Cultura.

Como Senador, Major Olímpio clamou por medidas contundentes e urgentes junto ao governo federal para salvar a vida dos brasileiros em relação à Covid. Mas lamentavelmente e para nossa grande tristeza, entre tantas outras vítimas, a Covid também o levou.  

Major Olímpio era uma pessoa muito especial. Comprou briga com vários políticos pelos ideais, nos quais acreditava. Lutou a “ferro e fogo” em defesa dos  policiais. Era e ainda é o guardião da classe policial. De onde está, hoje, deixa a seguinte mensagem:

“Companheiros,

Não façam com os criminosos as mesmas injustiças que vocês recebem. Sejam justos, eficientes. Lembrando sempre que a violência é ruim para todos. Que todos devem primar pelo dever, honestidade e solidariedade.

Matar, só em último caso, em própria defesa; porque, caso contrário, serão criminosos também. Não façam isso, sejam honestos cidadãos de bem. É só. Obrigado.”

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