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REFLEXÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO PAITER SURUI NAS REDES SOCIAIS

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REFLEXÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO PAITER SURUI NAS REDES SOCIAIS

*Merekubar Surui

**Josélia Gomes Neves

Resumo – O presente texto apresenta resultados parciais do Projeto de Pesquisa Alfabetização Intercultural no Instagram: exercícios de formação docente indígena, um estudo que foi concluído em agosto de 2022 pela Universidade Federal de Rondônia. O objetivo da proposta foi levantar, ler e reexaminar as investigações acadêmicas produzidas e publicadas por pesquisadores indígenas Paiter Suruí sobre alfabetização com vistas à seleção, produção e disponibilização de conteúdos digitais para a rede social Instagram. Concluímos que a elaboração de conteúdos digitais na área da alfabetização para a docência indígena pode significar uma oportunidade diferenciada de formação continuada. Constitui, a nosso ver uma forma outra de sistematização de material didático intercultural.

Palavras-Chave: Alfabetização Intercultural. Paiter Surui. Redes Sociais. Instagram.

Resumen – El presente texto presenta resultados parciales del Proyecto de Investigación Alfabetización Intercultural en Instagram: ejercicios de formación docente indígena, un estudio que fue concluido en agosto de 2022 por la Universidad Federal de Rondônia. El objetivo de la propuesta fue levantar, leer y reexaminar las investigaciones académicas producidas y publicadas por investigadores indígenas Paiter Suruí sobre alfabetización con vistas a la selección, producción y disponibilidad de contenidos digitales para la red social Instagram. Concluimos que la elaboración de contenidos digitales en el área de la alfabetización para la docencia indígena puede significar una oportunidad diferenciada de formación continua. Constituye, a nuestro juicio, otra forma de sistematización de material didáctico intercultural.

Palabras clave: Alfabetización Intercultural. Paiter Surui. Redes Sociales. Instagram.

Introdução

O Projeto de Pesquisa Alfabetização Intercultural no Instagram: exercícios de formação docente indígena referente ao ciclo 2021-2022foi realizado pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Campus Urupá de Ji-Paraná, por meio da Licenciatura em Educação Básica Intercultural mediante financiado do CNPq. É a primeira proposta encaminhada por docente do Departamento de Educação Intercultural (DEINTER) que teve aprovação junto ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI).

Trata de um estudo sobre Alfabetização Intercultural, temática que busca compreender e documentar os processos iniciais de aprendizagem da língua escrita em contextos indígenas de Rondônia e noroeste do Mato Grosso (NEVES, 2009; SANTOS, 2020). A fundamentação teórica advém das leituras de Ferreiro (1985) e Paulo Freire (1989) que defendem processos formativos na perspectiva crítico-construtivista.

Neste texto apresentaremos as reflexões iniciais que fundamentam a proposta, que tem a finalidade de levantar, ler e reexaminar as investigações acadêmicas produzidas e publicadas por pesquisadores indígenas Paiter Suruí sobre alfabetização. Em função das exigências do distanciamento social o estudo está ocorrendo de forma remota por meio de aplicativos digitais. A partir destas leituras serão selecionados, gerados e disponibilizados os conteúdos digitais na rede social Instagram.

A metodologia adotada foi a Pesquisa-Ação Pedagógica, definida como “[…] um trabalho participativo; colaborativo, pedagógico, entre pesquisadores e professores, na perspectiva de formação crítico-reflexiva, que, por pressuposto, reverterá na melhoria do ensino”. (FRANCO, 2016, p. 513). Consideramos este procedimento porque a fonte dos conteúdos digitais serão as produções acadêmicas de egressos da Licenciatura Intercultural e que serão disponibilizados na linguagem da rede social para docentes indígenas que atuam na alfabetização como possibilidade de interação acerca destes materiais didáticos.

Em relação à justificativa, a proposta foi pensada para possibilitar formação docente intercultural articulada à ciência e tecnologia de modo a propiciar “[…] a melhoria da educação científica, a popularização da C&T e a apropriação social do conhecimento”. (BRASIL, 2016, p. 100) por meio dos recursos educacionais abertos.

Fazendo formação docente indígena no Instagram

O Projeto de Pesquisa Alfabetização Intercultural no Instagram: exercícios de formação docente indígena buscou produzir e divulgar os recursos educacionais abertos, entendidos neste texto como “[…] conteúdos digitais de ensino, aprendizado e pesquisa que estão em domínio público ou publicados sob licença livre, que podem ser usados, adaptados e/ou distribuídos por qualquer pessoa […]”. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2015, p. 1).

Neste sentido a proposta sistematizou conteúdos digitais pedagógicos referentes aos processos iniciais da leitura e da escrita para as escolas indígenas. Uma confecção de material didático através de atividades envolvendo o trabalho com os alfabetos – em língua indígena e/ou portuguesa dependendo do contexto, em formato fixo ou móvel, nome próprio, listas de palavras, iniciação matemática, por exemplo. 

Uma oportunidade de aproximação das intenções formativas do documento “Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016-2022’, produzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) afirma que: “As universidades e instituições de pesquisa precisam ser estimuladas a incorporar a dimensão social nas suas agendas de pesquisa, a promover a formação cidadã; e deve ser buscada uma maior integração das ciências sociais e humanas às políticas de CT&I”. (BRASIL, 2016, p. 99).

Assim, nossa proposta investigativa-interativa respondeu a esta interpelação ao inovar e favorecer um espaço educativo intercultural com benefício para as escolas indígenas. Vale ressaltar que o referido projeto significa um meio de produção e transferência de novas tecnologias e inovação, uma estratégia de popularização da Ciência e Tecnologia conforme imagem abaixo:

A intenção foi propiciar interação com a docência indígena de Rondônia e noroeste do Mato Grosso a respeito de suas compreensões sobre o ingresso de seus povos nas culturas do escrito. Avaliamos que a docência na alfabetização exige cada vez mais um (a) profissional que compreenda a importância de sua atuação com autonomia (FREIRE, 1996), na condição de intelectuais (GIROUX, 1997) interculturais imprescindíveis para seus povos, considerando a importância da cultura escrita no mundo atual. Entendemos que as redes sociais e suas possibilidades interativas poderão ser caminhos para o fortalecimento da Educação Intercultural, pois concordamos que: “[…]. A inclusão digital deverá promover um grande avanço educacional no Brasil, mas exigirá novos modelos pedagógicos, a produção de conteúdos digitais e muito apoio aos professores. […]”. (BRASIL, 2016, p. 99).

A expectativa em relação aos resultados é que haja alcances sociais e pedagógicos desta iniciativa considerando os mecanismos interativos. Ao tomar contato com um determinado tipo de conteúdo o (a) docente indígena pode adaptar aquela atividade à realidade de sua sala de aula, por exemplo. Os benefícios deste estudo serão estendidos à Linha de Pesquisa Alfabetização & Cultura escrita, ao componente curricular Língua e literatura bem como a possível preparação para o prosseguimento de estudos considerando a elaboração do projeto de pós-graduação em curso.

Considerações Finais

O escrito ora apresentado trata de um recorte do Projeto de Pesquisa Alfabetização Intercultural no Instagram: exercícios de formação docente indígena, um estudo que se encontra em andamento realizado pela Universidade Federal de Rondônia. Envolve a temática Alfabetização Intercultural, discussão que busca compreender o ingresso das sociedades indígenas nas culturas do escrito em dialogia com as leituras de Emília Ferreiro e Paulo Freire.

A Pesquisa-Ação Pedagógica foi o recurso metodológico adotado para este trabalho, uma vez que a proposta do estudo é pesquisar e divulgar conteúdos digitais na rede social do Instagram sobre alfabetização a partir das pesquisas Paiter Surui em contexto interativo. A nosso ver, a divulgação de produtos científicos interculturais por meio da popularização pela C&T, Ciência e Tecnologia pode representar uma forma diferenciada de fazer formação continuada e produzir material didático.

Referências

BRASIL. Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016-2022. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Brasília, 2016.

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 23. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1985.

FRANCO, Maria Amélia Santoro.Pesquisa Ação-Pedagógica: práticas de empoderamento e participação. Educ. Temat. Digit. Campinas, SP. v.18 n.2 p. 511-530 abr./jun. 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8637507 Acesso em: 20 nov. 2019.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.  26. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 21. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1989.

GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

NEVES, Josélia Gomes. Cultura escrita em contextos indígenas. Orientadora: Maria Rosa Rodrigues Martins de Camargos. 2009. 369f. Tese (Doutorado em Educação Escolar) Universidade Estadual Paulista, Campus de Araraquara. Araraquara SP, 2009.

REVISTA NOVA ESCOLA. O que são os recursos educacionais abertos? 8 de setembro de 2015. https://novaescola.org.br/conteudo/4648/o-que-sao-recursos-educacionais-abertos Acesso em: 20 abr. 2020.

SANTOS, Vanúbia Sampaio dos. Alfabetização Intercultural na escola indígena Zoró Pangyjẽj. 344f. Tese (Doutorado  em Educação). Universidade Estadual de Maringá. Progama de Pós-Graduação em Educação. Maringá – PR, 2020.


* Estudante indígena do Curso Licenciatura em Educação Básica Intercultural – Universidade Federal de Rondônia  thallissurui@gmail.com

** Docente no Curso Licenciatura em Educação Básica Intercultural Universidade Federal de Rondônia joseliagomesneves@gmail.com

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